Daqui a pouco vou fazer-me à
estrada até Odemira para responder a um convite simpático para conversar sobre “Inclusão:
Desafios das Escolas e dos CRIS” com elementos da comunidade educativa.
Como sempre, tenho a certeza de
que o convite decorre de uma genuína vontade de reflectir sobre esta questão,
educação e escola inclusiva. Confesso, no entanto, que sempre fico algo
inquieto ao abordar estas questões em grupos alargados de profissionais e pais.
Que poderei dizer sobre educação
inclusiva e futuro num tempo em que a Educação, no sentido mais nobre e vasto
do termo, está revista em baixa, transformando-se cada vez mais em Aprendizagem
de competências instrumentais normalizadas, sujeitas a uma febre de medida que
passa a ser o tudo da educação e que de Inclusiva tem muito pouco?
Como tantas vezes tenho escrito e
afirmado, logo de pequenos muitas crianças começam a passar por filtros e
objecto de Classificações de diferentes naturezas.
São arrumadas em “gavetas” que só
por existirem determinam o seu presente e o seu futuro.
Assim, grupos com rótulos como "repetentes",
"dificuldades de aprendizagem", "necessidades educativas
especiais permanentes", "hiperactivos" "autistas",
etc., agrupam-se em espaços físico ou curriculares, do ensino vocacional, às
unidades ou escolas de referência e guetizam-se por espaços, entre a escola e
as instituições, de novo e cada vez mais.
Passam ser conhecidos de forma bizarra
e insultuosa como os NEEs, os CEIS, carregam PEIS e PITS e outras ferramentas “imprescindíveis”
são objecto de intervenções de que já aqui falei que, em algumas
circunstâncias, são parte do problema e não parte da solução. Parte dos apoios e
das intervenções, mesmo em idade de escolaridade obrigatória são desenvolvidas
ao abrigo de modelos desajustados promovendo uma espécie de “outsourcing” que
mais difícil torna realizar um trabalho adequado.
Mais uma vez a afirmação de que a
inclusão assenta em quatro dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos),
Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras
pessoas), Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades
comuns) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade).
Estas dimensões devem ser operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação
justamente para que acomodem a diversidade das pessoas.
À luz deste entendimento é justo
afirmar que temos excelentes exemplos de trabalho em comunidades educativas
que, tanto quanto possível e com os recursos de que dispõem, se empenham em
estruturar até ao limite ambientes educativos mais inclusivos em que todos,
mesmo todos, participem.
Devo então falar do copo meio
cheio ou do copo meio vazio?
Na verdade existem alunos que não
estão ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que estão, não
“integrados” mas “entregados”, por várias razões e nem sempre por dificuldades
próprias.
Existem pais que não estão ou não
se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que os seus filhos cumprem
os dias.
Existem professores que não estão
ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa onde se empenham e
querem trabalhar apesar dos meios e recursos tantas vezes insuficientes e
desadequados.
Existem orientações normativas e
políticas que, sempre em nome da inclusão, acabam por promover ou facilitar a
exclusão.
Existem direcções escolares,
poucas quero acreditar, que gostariam de ver as suas escolas ou agrupamentos
mais “bem frequentadas”, alguns miúdos só criam dificuldades e atrapalham os
resultados das escolas.
Como responderemos aos desafios
da educação inclusiva?
Passará, de facto, o futuro da
nossa escola pública pelos princípios da educação inclusiva?
Que devo ou posso dizer?
Eu quero acreditar que sim.
Nem a proposito professor. Hoje um rapazinho de 8 anos chamado para participar numa atividade chegou ao pé de mim para se apresentar e disse:sou hiperativo, tenho defice de atenção e hoje tomei o comprimido. Como te chamas, perguntei. Angelo. Pois é isso o que importa eu sabe. Olá Angelo. Tá bem...mas era só para avisar......
ResponderEliminarElucidativo.
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