AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

MALTRATAR NÃO É GOSTAR

Um estudo da responsabilidade da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) envolvendo 2500 jovens entre os 12 e os 18 anos mostra que 22% dos inquiridos aceitam como normal a existência de diferentes tipos de violência no âmbito das relações amorosas. Estes números, em linha com estudos anteriores, merecem reflexão séria.
O estudo considera três tipos de violência, 9% psicológica, física e sexual. No que respeita à violência física 9% considera legítima e 5% afirma já ter sofrido de agressões.
Relativamente à violência psicológica perto de 25% considera aceitável e 8.5% já terá passado por situações desta natureza.
Relativamente à violência sexual, 32,5% dos rapazes e 14,5% nas raparigas, 16% em média, acha normal que se force as relações sexuais ou outro tipo de comportamentos. No entanto, apenas 4,5% assume ter sido vítima em episódios deste tipo.
De facto, esta questão, a violência e abusos de diferente natureza em relações amorosas entre adolescentes e jovens, não tem, do meu ponto de vista, merecido a atenção que a sua gravidade e prevalência justificam e que outros estudos comprovam.
Este cenário preocupante também indicia o que está por fazer em matéria de valores e comportamentos sociais.
Na verdade, gostar não é compatível com maltratar, mas creio que não é surpreendente. Os dados sobre violência doméstica em adultos que permanece indomesticável deixam perceber a existência de um trajecto pessoal anterior que suporta os dados destes e de outros trabalhos.
Os sistemas de valores pessoais alteram-se a um ritmo bem mais lento que os nossos desejos e estão, também e obviamente, ligados ao quadro de valores sociais presentes em cada época. De facto, e reportando-nos apenas aos dados mais gerais, é relevante a percentagem de jovens que afirmam um entendimento de normalidade face a diferentes comportamentos que evidentemente significam relações de abuso e maus tratos.
Como todos os comportamentos fortemente ligados à camada mais funda do nosso sistema de valores, crenças e convicções, os nossos padrões sobre o que devem ser as relações interpessoais, mesmo as de natureza mais íntima, são de mudança demorada. Esta circunstância, torna ainda mais necessária a existência de dispositivos ao nível da formação e educação de crianças e jovens; de uma abordagem séria persistente nos meios de comunicação social; de um enquadramento jurídico dos comportamentos e limites numa perspectiva preventiva e punitiva e, finalmente, de dispositivos eficazes de protecção e apoio a eventuais vítimas.
Acontece que o ME retirou há algum tempo do currículo obrigatório, com o estatuto de disciplina, os conteúdos curriculares relativos à formação pessoal e formação cívica num entendimento mais do que discutível e só explicado pela política contabilística em que boa parte da política educativa se foi transformando.
Entretanto e enquanto isto não muda e eu também não, "só faço isto, porque gosto de ti, acreditas não acreditas?"

Sem comentários:

Enviar um comentário