AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O PRIMEIRO CIGARRO

O DN tem hoje uma peça muito curiosa sobre as memórias nostálgicas de um tempo “socialmente incorrecto” em que se fumavam cigarros com uma enorme carga de nicotina e de marcas já desaparecidas ou em vias disso. Algumas dessas marcas adquiram um estatuto de longevidade que não nos deixa esquecer delas. No meu caso foi durante muitos anos o mítico Português Suave sem filtro, nunca gostei de tabaco com filtro. Às vezes também recorria ao tabaco de enrolar.
Já que entrei nas teias da memória deixem-me partilhar a experiência do primeiro cigarro, apenas o primeiro de uma longa, demasiado longa, série.
Naquela idade em que queremos crescer depressa para fingir que crescemos adoptamos comportamentos dos mais crescidos, o cigarro era uma das opções de “aceleração” do crescimento.
Dado que o dinheiro não era muito, aproveitei a boleia do meu primo, apenas com uns meses a mais e que também queria ser crescido, para experimentarmos em conjunto.
A experiência, no que respeita aos recursos envolvidos até ficou barata, nós os dois fornecemos a mão-de-obra e a vontade e o meu primo surripiou da loja do pai um maço para o grande evento.
No dia aprazado, o meu primo aparece com um maço, se não me falha a memória, da marca Sintra que tinha uma novidade, filtro de cristais, isso lembro-me bem e dava um ar mais sofisticado à experiência. Tratava-se agora de escolher o palco. Optámos por nos sentarmos debaixo de um damasqueiro numa quinta perto das nossas casas, naquele tempo havia quintas na zona onde morava. E começámos.
Com muita tosse, caretas, falta de jeito, uma enorme dor de cabeça final e uma sensação de nauseado que não tinha jeito, quase despachámos o maço e quase nos despachámos a nós, tal era o mal-estar.
Quando voltámos, meio enjoados e com um fardo enorme aos ombros, vínhamos a pensar que se calhar não sabíamos fumar, porque as pessoas que fumavam pareciam gostar e ficar bem e nós estávamos num estado lastimável.
Na verdade, crescer não é fácil, dá algumas dores e embaraços. Eu que sou um tipo persistente e queria mesmo crescer, aprendi a fumar, sempre tabaco sem filtro, o referido Português Suave, e depois o cachimbo. Assim continuei por muitos anos.
Um dia, achei que já não precisava de crescer mais e deixei de fumar.
Às vezes ainda tenho saudades.

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