AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 23 de janeiro de 2016

O DIA DA REFLEXÃO

Manda a liturgia dos processos eleitorais que o dia anterior se dedique à reflexão. Como em outras ocasiões tenho afirmado não estou muito de acordo com este cenário, do meu ponto de vista, ainda que pareça estranho, deveríamos ter o dia de reflexão no dia seguinte às eleições.
Em primeiro lugar não julgo necessário o dia de reflexão antes do acto eleitoral porque não entendo que essa reflexão influencie significativamente os resultados eleitorais pois, se por um lado, a abstenção continua a crescer, deixando cada vez mais o voto no eleitorado fidelizado, por outro lado, o eleitorado flutuante não decide na véspera, decide, creio, face a contextos e circunstâncias, por exemplo a qualidade e capacidade mobilização das candidaturas em presença.
Em segundo lugar, porque na verdade, em termos de futuro parece ser mais significativo reflectir nos resultados eleitorais que se verificarem. Será totalmente diferente um cenário de vitória à primeira volta de um candidato que se limitou a colocar a sua presença mediática a render e a “vender” um discurso de sedução a tudo e todos ou, como espero e desejo, uma segunda volta com a presença de Sampaio da Nóvoa. Aí, começa tudo de novo mas, felizmente, já não do “zero”.
Aproveito, no entanto e desde já, o dia de reflexão para deixar um apelo muito sentido.
Apelo vivamente aos senhores integrantes da classe política que a propósito das eleições de amanhã se inibam de elaborar comentários como “queria felicitar o povo português pela forma tranquila como está a decorrer, ou decorreu, o acto eleitoral”, “quero registar a normalidade que o povo português evidencia no cumprimento do seu dever cívico”, “os cidadãos mais uma vez mostram a sua maturidade democrática” ou ainda “o acto eleitoral está a decorrer, ou decorreu, com toda a normalidade em todo o território”. Considero afirmações desta natureza um insulto à esmagadora maioria dos cidadãos eleitores em Portugal. Que diabo pensam de nós, para se surpreenderem com a “normalidade” do nosso comportamento?
Então não é de esperar que participar num acto eleitoral, das diferentes formas possíveis, seja algo de normal e tranquilo?
Lembro-me daqueles pais e professores que ao falarem de miúdos acrescentam de imediato “e até se portam bem”, como se o comportamento adequado seja uma surpresa e a excepção. Como se dizia no PREC, “repudio veementemente tais afirmações”.
Já agora, nós, os cidadãos que votamos, ou não, com normalidade democrática, gostávamos de poder comentar as campanhas dizendo que tudo decorreu com a elevação, sentido ético e de esclarecimento normais. Mas não, existiram como sempre os insultos, a demagogia, a trafulhice nas ideias e nos comportamentos, a falta de esclarecimento e debate sério, etc.
A actividade das lideranças ou de candidatos a líderes é que nem sempre decorre com normalidade e tranquilidade democráticas. Não tratem os cidadãos como gente incapaz e de quem sempre se espera o pior. 
A campanha que ontem terminou constituiu um autêntico manual. 
Como sabem, sou suspeito, apoio desde o início Sampaio da Nóvoa mas, de facto, foi o único que apresentou e esteve disponível para discutir uma visão para Portugal e para os portugueses dentro do quadro de competências do Presidente da República.

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