AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 13 de dezembro de 2015

DA ESTABILIDADE

Nos últimos tempos temos sido bombardeados com a ideia da estabilidade a propósito das mais variadas matérias. O mantra da estabilidade é aplicado em todas as circunstâncias transformando-se no caminho para o paraíso.
Acontece que boa parte dos discursos sobre estabilidade assentam num enorme equívoco que, do meu ponto de vista, é intencional.
Na verdade, nas mais das vezes confunde-se “estabilidade” com “estagnação”, com “imobilidade”, com “paz podre”, com o “temos que ser amiguinhos”, com “medo da conflitualidade”, etc., etc.
A ver se nos entendemos. As mudanças introduzem tensão, conflito, dúvida mas só assim se evolui embora também saiba que as mudanças podem ter sentido negativo.
A conflitualidade não é má em si mesma, é má quando é mal resolvida, quando não conhece democracia, ética ou moral.
As grandes mudanças ao longo da história e em todas as áreas resultaram sempre do contrariar da “estabilidade”, do “pensar diferente”, do duvidar, do experimentar, do caminhar por caminhos diferentes.
É verdade que as mudanças também não são processos fáceis, geram reserva e mesmo receio. É também verdade que muitos dos discursos de apelo à “estabilidade” se servem desse receio para evitar a mudança e, simultaneamente, manter e acautelar os seus interesses de sempre.
Vejam-se como nos discursos políticos nos últimos meses tem estado presente a defesa exacerbada da “estabilidade” pantanosa da alternância política certinha, amiga, sempre dentro do chamado “arco da governação” e a diabolização da mudança e da catastrófica instabilidade que aí virá.
Vejam-se os discursos no âmbito das presidenciais e como a estabilidade do “sempre tem sido assim” sustenta ataques fortíssimos ao que verdadeiramente contém um potencial de mudança, a candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Camões escreveu há muito “Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. Se tivesse seguido os conselhos sobre a necessidade da estabilidade não teria escrito. Não teria vivido.
Nem Pessoa, um desassossegado sem estabilidade.
Nem toda a gente que um dia pensou “fora da caixa”.

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