AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O PS E AS PRESIDENCIAIS, UMA DECISÃO "TANTO FAZ" E "DEPOIS LOGO SE VÊ"

Apesar de estar habituado a que boa parte das decisões políticas tenho como objectivo a clientela interna e os jogos de poder da partidocracia a decisão "tanto faz", "demitida", da direcção política  do PS relativamente às presidenciais ainda me surpreende.
Após uma derrota eleitoral para a qual uma campanha cheia de erros, reactiva e não proactiva, à deriva, contribuiu significativamente, o PS tem pela frente um cenário complicado pois, ou se "compromete" com a viabilização da coligação e se "apaga" pela indeferenciação, ou assume a liderança de uma maioria parlamentar de esquerda asumindo todas as consequências que daí possam resultar. Percebo a hesitação e a necessidade de ponderação no caminho a seguir.
No entanto, julgo que as próximas presidenciais poderiam constituir um processo de reagrupamento político que expressasse a maioria que à esquerda se definiu no parlamento. Neste sentido, o PS teria de adoptar também neste processo uma estratégia de liderança que pudesse contribuir para federar um visão para as presidenciais e tentar restituir um equilíbrio no quadro político português que não continue "uma maioria, um presidente", chegam oito anos de Cavaco Silva. 
Submetendo-se à clientela interna e aos seus jogos de poder, a direcção do PS, António Costa, anuncia uma decisão "tanto faz", votem em qualquer um e depois logo se vê. O grande risco, já o afirmei ontem, é que não tenhamos sequer segunda volta pelo que "logo" ... "não se vê" coisa alguma.
A dispersão de votos dos militantes e simpatizantes socialistas entre Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa e Henrique Neto podem transformar, como ontem escrevi a campanha eleitoral do "entertainer político" mais conhecido por Professor Marcelo num passeio que acabará à primeira volta nos jardins do Palácio de Belém. Na verdade, Maria de Belém é uma candidatura fabricada, inócua, sem nada dentro e Henrique Neto dificilmente sairá de limites restritos de mobilização apesar da sua seriedade e competência.
Parece-me, pois, que a decisão do PS é, manifestamente, uma cedência às lutas e equilíbrios do aparelho partidário com o enorme risco de hipotecar a possibilidade de que como Presidente da República tivéssemos alguém, Sampaio da Nóvoa, que constrói a sua candidatura num "espaço de cidadania", o seu maior valor e uma necessidade imperiosa e urgente nestas dias que vivemos. Precisamos como nunca de uma visão e de um sentido de missão informados por valores que estejam libertos dos limites da partidocracia.
Sublinho que sendo os partidos peças centrais das sociedades democráticas não podem, não devem, ter o monopólio da actividade cívica e política sob o risco de se virarem para dentro, se encapsularem e de se transformarem em espaços fechados dominados por interesses de conjuntura e luta pelo poder, organizados em aparelhos cujo controlo permite o domínio do partido e o acesso ao poder.
Em todo este contexto, a emergência de movimentos ou iniciativas com protagonistas como Sampaio da Nóvoa no exercício desse inalienável “espaço de cidadania” podem ser também um contributo para a renovação da “praxis” política que conduziu à partidocracia e se traduz no afastamento dos cidadãos como os níveis assustadores e crescentes da abstenção bem demonstram e em 4 de Outubro ficou de novo bem claro.
É de tudo isto que o PS parece desvalorizar abdicando de um papel forte, proactivo, com visão de futuro numa função tão relevante como a Presidência da República 

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