AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

DA NEGRURA SOBRE A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Representantes da European Science Foundation realizaram um evento público para apresentar o “relatório final” do seu “dirty work”, liquidar boa parte do sistema de investigação português afectando, designadamente, as “inúteis” Ciências Sociais.
Importa sublinhar que o Relatório não é final pois ainda estão a ser analisados algumas dezenas de recursos. Como o povo costuma dizer “cada cavadela, cada minhoca”, ou seja, as explicações dos “peritos” da ESF apenas confirmaram a natureza insustentável do processo de que foram responsáveis. Por outro lado, passam culpas para a FCT que por sua vez lava culpas pois a sua Presidente entrou com o processo a decorrer.
Para irresponsabilidade e incompetência não está mal.
A coisa resume-se facilmente. A Fundação para a Ciência e Tecnologia contratou uma moribunda European Science Foundation para um trabalho extraordinário, liquidar parte significativa das estruturas de investigação existentes em Portugal.
Definiu à partida que metade das entidades deveriam ser eliminadas logo na primeira fase e a ESF  que fizesse o trabalho. Para dar suporte às decisões recorreu-se de forma absolutamente delirante à tirania dos índices bibliométricos através da Elsevier e constituíram-se equipas de avaliadores que sem dar a cara se dispuseram a fazer o trabalho sujo, eliminar 50% dos centros e laboratórios da passagem à fase seguinte da avaliação, objectivo constante do contrato estabelecido como veio a saber-se posteriormente.
O resultado deste tenebroso processo é conhecido, pode aceder-se a muitos exemplos no blogue Rerum Natura e na imprensa onde têm sido reportados sucessivos exemplos de avaliações e tomadas de posição de investigadores e estruturas, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Nas avaliações realizadas verificou-se de tudo, critérios ambíguos e falta de transparência, avaliação de áreas científicas por avaliadores fora dessa área e sem peso científico, avaliações completamente contraditórias, mal fundamentas, sobre o mesmo trabalho, ignorância sobre algumas temáticas em avaliação, desconhecimento das variáveis contextuais, etc.
O resultado pretendido pela FCT foi atingido, boa parte do tecido de investigação em Portugal foi, vai ser, destruído. Muitos Laboratórios e Centros de investigação com resultados importantes e reconhecidos têm fortemente comprometido, quando não impossibilitado, o seu trabalho. É uma irresponsabilidade ética e politicamente delinquente.
Nada disto quer dizer, evidentemente, que a investigação não deva ser avaliada e escrutinados os apoios financeiros.
A questão é que esta avaliação deve ser séria e competente, com critérios claros e por avaliadores reconhecidos e competentes  nas áreas  que avaliam.

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