AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 27 de setembro de 2015

O TEMPO DAS NOZES

Como ontem vos disse este fim-de-semana há festa no meu Alentejo, as Festas da Sra. D’ Aires. Também como quase todos os anos acontece é também neste fim-de-semana que colho as nozes aqui no monte.
Acabámos há pouco a tarefa, apenas restam as nozes altas de uma nogueira que ficarão para ser batidas para a semana, as costas já protestam, a vara é grande e pesada, é uma das das que usamos para varejar a azeitona. Sempre que colhemos as nozes recordo uma história, uma de muitas, que o Mestre Zé Marrafa me contou.
Dizia ele que há uns quarenta ou cinquenta anos lá para trás no tempo trabalhava para um lavrador muito velhaco, muito malino, naquele tempo havia muitos sublinhou, que obrigava as moças que trabalhavam na herdade a colher as nozes sempre no dia antes de começar a festa da Sra. D’ Aires, estivessem ou não prontas para colher.
Face à minha estranheza explicou que naquele tempo não se usavam luvas e que as mãos ficam tão negras e impregnadas com o óleo do invólucro das nozes que as moças tinham que ir à festa com as mãos num estado lastimoso. É verdade, não sei se já passaram pela experiência, por isso eu uso luvas de trabalho para tal tarefa.
Esse mesmo lavrador para castigar os homens determinava tarefas “sujas” logo no início da semana levando a que a roupa de trabalho das pessoas ficasse em mísero estado para o resto da semana. Naquele tempo era assim, não seria só assim mas era também assim.
Às vezes, coisas de velho já se vê, parece-me não haver memória.
Mas o Velho Marrafa não esqueceu.

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