AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 22 de agosto de 2015

DA "TUDOTERAPIA"

Não duvido da seriedade, competência ou empenho dos profissionais envolvidos nestas experiência de “uma nova terapia de relaxamento, com recurso a patos e lontras, destinada a pessoas portadoras de deficiência física ou mental “ como também não duvido que nas crianças, jovens e adultos destinatários da “nova terapia” se registem alterações positivas. Quando pessoas em situação mais vulnerável recebem atenção, estímulo, apoio e envolvimento, por princípio, notar-se-á melhoria na sua condição, independentemente da actividade, dentro do que será racional e aceitável.
As notas que se seguem partem desta notícia mas relevam, fundamentalmente, de que nos últimos anos e no que respeita aos problemas, de diferentes âmbitos e gravidade, que afectam as crianças e adolescentes, sobretudo mas não só, têm vindo a emergir uma gama sem fim de abordagens "terapêuticas" da mais variada natureza das quais, numa espécie de pensamento mágico, se anunciam ou esperam resultados milagrosos que nem sempre são comprovados com validade científica, embora muita gente possa "atestar" melhoras que, evidentemente, alimentam o recurso a esta gama do que eu chamo a "tudoterapia", ou seja, tudo é terapêutico.
A minha inquietação decorre, essencialmente, do que acontece com os pais, conheço muitas situações, quando se envolvem nestas experiências. As suas fragilidades e impotência face aos problemas que os filhos evidenciam, a vontade inesgotável de tentar ou experimentar o que estiver ao seu alcance para que os problemas se atenuem ou desapareçam, leva-os a investirem imenso nessas abordagens que, na verdade, não são milagrosas e não têm resultados garantidos.
Para além dos custos, da frustração em caso de insucesso, o mais provável na maior parte da "tudoterapia", alguns pais podem ainda sentir-se culpados porque, por exemplo, devido a circunstâncias económicas ou de acessibilidade, não podem providenciar tais "terapêuticas" aos seus filhos. A "evolução", que por vezes se regista em algumas situações, pode dever-se, por exemplo, a um efeito placebo, a uma maior atenção dada à criança ou adolescente, e não decorrer das propriedades terapêuticas do procedimento, para as quais, como referi, não existe nas mais das vezes, validade científica.
Neste cenário, os técnicos têm um papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústias e necessidades dos pais, no sentido de procederem a abordagens sérias e realistas sobre os objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis, ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.

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