Recordo o Parlamento tinha
aprovado uma recomendação ao Governo para que procedesse à revisão da Portaria
n.º 275-A/2012 em vigor sobre esta matéria.
É importante recordar que a
recomendação surgiu na sequência da discussão na AR de uma Petição lançada pela
Plataforma - Associações de Pais pela Inclusão que pretendia a revogação dessa
Portaria pois, segundo os promotores, a Portaria “constitui um retrocesso nos
desígnios de uma sociedade inclusiva, condicionando a aprendizagem e a
profissionalização de muitos dos jovens com necessidades educativas especiais”.
Sem conhecer os conteúdos da nova
portaria algumas notas breves.
Em primeiro lugar sublinhar o
empenho e a persistência dos Movimentos de Pais no combate ao normativo que
está em vigor e que claramente atentava contra alguns dos direitos dos seus
filhos.
Em segundo lugar registar que,
apesar de algumas boas experiências, a sua aplicação produziu efeitos muito
negativos e o que é conhecido por quem tenha alguma proximidade com este
universo seria mais do que suficiente para que tivesse sido recomendado a
revogação e não "revisão" e que tivesse acontecido há mais tempo.
Assim, gostava de ser optimista
relativamente à nova portaria mas não sinto por onde possa alimentar esse optimismo.
Oxalá esteja mesmo enganado.
Não esqueço que quem deverá
proceder à sua "revisão" será a mesma estrutura que a produziu,
defendeu e alimentou pelo que a eventual "revisão" da Portaria não
significará certamente a "revisão" das ideias e da visão que a informaram.
Acresce a teimosia arrogante a que estamos habituados por parte do MEC.
A principal razão para isto é
que, do meu ponto de vista, esta visão e ideias são estruturantes de toda a
política educativa. Uma visão de "normalização" do ensino, já não
vale a pena falar de educação, vai afastando os menos dotados ou
"preguiçosos" das salas de aula e, melhor ainda das escolas ou, pelo
menos, acantonados em espaços próprios, de "referência" ou
"unidades", por exemplo.
Não esqueço também os interesses
presentes que envolvem as instituições de solidariedade social ou privadas que
providenciam serviços de "inclusão". Apesar de algumas boas práticas
a realização de um conjunto de actividades, algumas verdadeiramente
inaceitáveis ou inúteis, num espaço institucional próprio, inserido num grupo
semelhante, tem pouco a ver com inclusão cujo principal critério, mais uma vez,
é, justamente, a participação da forma possível nas actividades de toda a
comunidade.
É como se pudéssemos afirmar,
desculpem a crueza, que um indivíduo preso que realize na prisão algumas actividades
que também se realizam na comunidade está incluído.
A questão central, do meu ponto
de vista, não é de todo uma opção de natureza científica relativamente à
educação de um grupo de alunos com necessidades especiais é, de facto, uma
questão centrada numa visão de sociedade, de educação e ensino público a que os
grupos mais vulneráveis são, obviamente, os mais expostos aos efeitos
negativos.
O Secretário de Estado do Ensino
Básico e Secundário afirmou ontem na AR que os alunos com NEE “estarão na
escola em tempo semelhante ao que estarão os outros alunos” e “Garantiremos que
prossigam no ensino secundário com as devidas condições e com o devido apoio”,
disse. As práticas que conhecemos apesar de muitas experiências notáveis
fazem-me ter alguma reserva sobre o que aí vem.
Veremos se a nova portaria que
regula a frequência do ensino secundário por parte de alunos com NEE apenas procede
a alguns ajustamentos que se reflictam na aparência ou se traz algo de novo ao
nível da substância.
Deixem lá ver, como se diz no
Alentejo.
Belo artigo,aliás, como muitos outros produzidos por si.
ResponderEliminarParabéns!
Obs. Julgo que o título contém uma pequena anomalia: ...ideias que a enformam
Obrigado HJ. Creio que as duas formulações podem ser usadas. Não têm o mesmo signficado mas vão no mesmo sentido, obrigado pela atenção.
ResponderEliminarAs IPSS são uma força temível do retrocesso civilizacional enquanto a inclusão unidimensional, massiva e panoptica representa o Homem Novo, enxertado na propaganda do Big Brother Bildelberg...
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