AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 23 de julho de 2015

DA DIVERSIDADE EM EDUCAÇÃO

A presença das crianças das comunidades ciganas nas escolas públicas nem sempre é algo de pacífico e tranquilo como seria desejável que acontecesse. Crianças em idade escolar a frequentar a escola é, deveria ser, obviamente, uma situação normal. 
A questão é que os fenómenos de guetização presentes sobretudo no que toca à comunidade cigana e que são complexos, produzem com frequência situações como a que agora volta a ser notícia no Público, a constituição numa Escola de Tomar de uma turma apenas com crianças de etnia cigana. Que escola ou que escolas devem frequentar as crianças da(s) comunidade(s) cigana(s)? Como deve ser gerida a sua colocação em turmas?
É divulgado hoje que os alunos dessa turma tiveram durante o ano lectivo resultados escolares positivos embora a situação, existência desta turma, vá ser alterada, felizmente, diria.
Os resultados escolares dos miúdos não justificam a bondade da medida. Pela mesma razão, se numa qualquer cidade da Suíça ou da Bélgica fosse constituída uma turma apenas com filhos de emigrantes portugueses e mesmo que os resultados escolares dos miúdos fossem positivos a medida não seria positiva pois a educação é muito mais que o resultado escolar, por mais importante que este seja, evidentemente.
Também me parece, posso estar enganado, que para alguns de nós o que se pode entender com miúdos ciganos não seria aceitável com miúdos filhos de emigrantes portugueses num país estrangeiro.
Na verdade e sem surpresa emerge uma conflitualidade de interesses em torno destas questões assente em valores, experiências negativas ou positivas, estereótipos ou preconceitos de natureza e sinal diferente, dificuldades nas respostas aos problemas, etc.
A pior das soluções parece ser a definição de uma situação que alimente e prolongue a guetização, isto é, para crianças de uma comunidade guetizada uma escola guetizada ou uma turma guetizada.
Em termos formais, distribuir as crianças por várias escolas ou por várias turmas parece mais ajustado. A questão é que não chega.
Como é conhecido por quem lida com estas matérias, não basta ter as crianças na escola para que tudo corra bem. As experiências mostram que as escolas precisam de ter dispositivos e recursos que promovam a presença bem-sucedida destes miúdos, como, aliás, de todos os outros. Questões desta natureza não afectam apenas os alunos de etnia cigana, envolvem grupos de crianças como, mais um exemplo, as crianças com necessidades educativas especiais.
Caso contrário, temos o que por vezes designo por “entregação” (estão entregues) e não integração, com os problemas conhecidos daí decorrentes ao nível da aprendizagem, comportamento, absentismo e conflitualidade e reacções negativas de alguns pais e professores, ainda que com a concordância de outros.
Por outro lado, as próprias comunidades ciganas devem ser objecto de intervenção e exigências que não pode ficar na atribuição de uma casa num qualquer bairro social (mais um gueto) e na atribuição, por vezes desregulada, do Rendimento Social de Inserção.
Nada mudará e os problemas repetem-se.

2 comentários:

  1. Não aprovo nenhuma forma de discriminação, segregação ou o que se queira chamar a opções, decisões, procedimentos baseados em questões de raça, de credo, de morfologia...
    Contudo, porque conheço esta realidade de muito perto, devo dizer que esta comunidade cigana de Tomar não quer acatar quaisquer regras de cidadania, resolve as situações literalmente aos tiros, que são uma constante na entrada da cidade, onde a maioria dos seus membros vive em barracas, por se ter recusado a aceitar alojamento condigno na zona industrial de Tomar, a cerca de meia dúzia de quilómetros de distância. Nem o poder autárquico ousa atravessar-se no seu caminho, ainda que para seu bem! Até a polícia que é, inúmeras vezes, chamada pelos outros moradores à zona onde as barracas se situam, por desacatos entre os membros da própria comunidade, com recurso a armas de fogo, faz a ronda pela avenida principal e não se atreve a entrar nas ruas paralelas onde tudo acontece.
    É uma comunidade que se autoexclui e que se habituou a ter prioridade em todo o lado, por intimidação da autoridade: aos gritos no hospital ou centro de saúde, nas escolas das crianças, sobretudo nos serviços de ação social escolar, nos estabelecimentos comerciais onde, frequentemente, as mulheres e crianças são apanhadas a extraviar produtos (as crianças são mesmo instigadas a fazê-lo, sob o olhar atento das mães), enfim, onde quer que algum membro desta comunidade sonhe ir, faz questão de ter um tratamento diferenciado, a qualquer preço.
    Por exemplo, toda a comunidade educativa de Tomar se recorda de ouvir histórias de ameaças a professoras do 1.º ciclo quando estava em vigor a distribuição gratuita de computadores "Magalhães" às crianças beneficiárias de ação social escolar, se estas crianças de etnia cigana não eram as primeiras contempladas, mesmo fora de ordem, à medida que os computadores surgiam. Muitas famílias ciganas alegavam, sem qualquer pudor, que já tinham o negócio feito e o computador "Magalhães" prometido a um comprador e tinham pressa para receber o dinheiro.
    Curioso é lembrar que nos tempos gloriosos dos Cursos de Educação e Formação de Adultos, mais conhecidos por Novas Oportunidades, havia turmas inteiras de adultos de etnia cigana a frequentar uma escola EB 2,3 da cidade (a minha), cujos alunos se mantinham mais ou menos assíduos (tarefa hercúlea da coordenação), caso contrário perderiam o direito ao rendimento social de inserção, mas ninguém denunciou essa discriminação.
    Finalmente, consta que a turma de crianças em causa no artigo jornalístico foi constituída com o acordo dos respetivos pais, com o objetivo divulgado, tendo um desses pais, depois de qualquer zanga no seio da comunidade, decidido denunciar o caso como discriminação racial, o que, embora não justifique coisa alguma, evidencia o quão difícil é a integração dos que só querem ser integrados para obter direitos e não para respeitar deveres.

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  2. Eu compreendo Ana, já tive experiências de trabalho e conheço os problemas mas estou de acordo com Mandela "A educação e o ensino são as mais poderosas armas que podes usar para mudar o mundo"

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