A coberto das bolonhesas ideias
que já tinham permitido uma espécie de "meio mestrado" surgiu a
formulação da "meia licenciatura" que apesar de não conferir um grau
académico contribui para a estatística da formação superior definida pela UE,
uma tentação de sempre de quem habita o poder e, de caminho, disponibiliza-se
um balão de oxigénio ao ensino politécnico cuja procura baixou
significativamente.
Assim, jovens com o secundário
incompleto, podem vir a completá-lo simultaneamente à frequência da "meia
licenciatura" acedem, sem exame de candidatura, a um curso superior, é
sempre social e politicamente relevante, ajudam a completar as metas europeias
para os níveis de qualificação e satisfazem por encomenda das empresas as suas
necessidades de mão-de-obra qualificada pois, afirmava na altura do lançamento
o Secretário de Estado do Ensino Superior, "o número de alunos a admitir
vai depender das carências identificadas por cada região em parceria com as
empresas da zona, “que terão o papel crucial de dizerem as necessidades de
formação e de acolherem os jovens a fazer estágio”, afirmou então o Secretário
de Estado do Ensino Superior.
O último semestre da formação
será a realização de um estágio nas empresas que, certamente, encomendaram a
formação dos "meio licenciados". As empresas agradecem, "no
aproveitamento de estagiários é que está o ganho" diz o ditado.
Tudo isto embrulhado na narrativa
da necessidade de técnicos qualificados e nas necessidades dos mercados
mostrando experiências de outros países. Esta visão estreita da formação
superior corresponde a uma visão estreita da própria educação e qualificação.
Aliás, um dos países exemplo do recurso a esta medida, a Alemanha debate-se,
curiosamente, com falta de gente com formação superior e vem procurar em Portugal.
No entanto, contra a expectativa
do MEC, numa primeira fase o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos
teve a sensatez de exprimir sérias reservas face do modelo proposto de formação
superior "low cost", em dois anos e com propinas mais baixas, a
"meia licenciatura" como o Secretário de Estado a designou, o MEC
insistiu, deu um passo em frente e acenou com 140 milhões em sete anos avançou
com 20 milhões. As reservas dos Politécnicos atenuaram-se, naturalmente, e
apesar dos atrasos significativos na aprovação dos Cursos Técnicos Superiores
Profissionais, a primeira edição não teve grande adesão, mas para o próximo ano lectivo a coisa já se compôs e foram registados cursos técnicos superiores destinados a cerca de 15 000 alunos. Vamos ver como se comporta o mercado.
Como alguns especialistas em
ensino superior e na altura o próprio Conselho Coordenador têm vindo a afirmar,
a "meia licenciatura" não é muito diferente dos Cursos de
Especialização Tecnológica já existentes. Tem, no entanto, uma vantagem muito
importante, conta para a estatística da formação superior e permite tentar
atingir a meta definida pela Comissão Europeia. Curiosa medida, obviamente
“facilitista”, vinda do MEC gerido pelo arauto e farol do combate ao
facilitismo de anos anteriores, Nuno Crato. Se bem repararmos fica bem mais
barato financiar cursos de dois anos do que cursos de três e o efeito
estatístico é o mesmo. As contas foram bem feitas.
Para além de não acrescentar nada
de significativo aos CETs, ainda me parece que se pode estabelecer um conflito
potencial com a oferta de licenciaturas já existentes nos politécnicos,
adquiridas em três anos, uma vez que o MEC afirma que depois da "meia
licenciatura" o aluno pode ingressar numa licenciatura através de uma "prova
local" da responsabilidade de cada instituto. Tal situação no actual
quadro de abaixamento demográfico e de sobredimensionamento da rede vai,
evidentemente, significar ... mais facilitismo.
Acresce que o mesmo MEC que tem
vindo a proceder a um claro desinvestimento no Ensino Superior, politécnico e
universitário, consegue encontrar verbas, europeias, claro, disponíveis para
financiar estas "Novas Oportunidades" em modo ensino politécnico.
Dá-se sempre um jeito.
Como é claro, o investimento no
Ensino superior, universitário e politécnico, a reorganização da rede, os apoios aos alunos e às famílias seriam um
caminho bem mais interessante e enriquecedor das pessoas do que formação
estreita de mão-de-obra qualificada sob a encomenda do mercado.
Mais uma Pérola:
ResponderEliminarPassos diz que é um "mito urbano" que tenha incentivado jovens a emigrar
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=4613804&page=-1
É impressão minha ou o nosso Primeiro-Ministro tem Alzheimer?
Deixo aqui um Link Interessante.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=4613804&page=-1
Creio que a Crise veio agravar ainda mais as desigualdades no acesso à Saúde, quer no acesso aos centros de saúde quer nos Hospitais. Outra questão é que os Hospitais Públicos tem vindo a perder camas. Outra questão é que temos uma população pobre, envelhecida e sem recursos.
Relativamente ao acesso a medicamentos é certo que os medicamentos estão cada vez mais baratos, no entanto a população não tem poder de compra.
http://www.aeiou.pt/quiosque/farmacia-contesta-precos-de-medicamentos-mais-baixos-que-pastilhas-elasticas-1354095826
Cumprimentos
Pedro.