AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 2 de junho de 2015

A HISTÓRIA DO ESPELHO EMBACIADO

Um dia destes estava a Joana sentada, só, a uma mesa da sala de professores quando o Professor Velho apareceu para o chá da manhã. Conhecem o Professor Velho, é aquele que já não dá aulas, está na biblioteca e fala com os livros. O velho pegou no chá e sentou-se com a Joana.
Ainda bem que apareces Velho, como sabes dou-me bem com os meus alunos, acho que os entendo e que eles me entendem a mim.
Sei Joana, alguns dos teus alunos, passam lá pela biblioteca e dizem isso. Até dizem que gostam dos livros, como tu.
Pois é Velho, mas ando preocupada com o Mauro, não consigo entendê-lo. Não consigo perceber de que é que ele gosta, que estrada é que gostaria de andar, que pensa ele das coisas, da vida dele, da escola, sei lá. Também acho que ele não me entende muito bem, estou um bocado perdida.
Sim Joana, eu conheço o Mauro, ele está cá há três anos e acho que ele está mais perdido do que tu. Imagina um espelho embaciado e como é difícil a gente olhar-se por um.
Não entendo Velho.
Quando olhamos para nós através de um espelho embaciado sabemos que estamos ali, sabemos que somos nós mas não nos conseguimos perceber de forma suficientemente nítida. O Mauro quando começa a olhar para ele, ou seja, quando pensa em si, sabe que está ali, como no espelho, mas a imagem não é clara, nítida, daí a sua dificuldade em entender-se. Experimenta chamá-lo para o pé de ti, mostra-lhe o teu espelho pequenino e pede-lhe para que ele fale do que vê. Talvez o teu espelho não embacie a imagem do Mauro.

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