Do meu ponto de vista foi
positiva a reacção das empresas de comunicação social à tentativa, ao que
parece de geração espontânea, de um grupo de deputados do centrão, CDS-PP, PSD
e PS, que sem surpresa são capazes de estabelecer consensos, de instituir um
visto prévio na cobertura da campanha eleitoral.
Essa proposta caiu e o CDS-PP e
PSD apresentam nova proposta de cobertura das campanhas eleitorais que está a merecer as críticas de duas dezenas de
responsáveis editoriais de órgãos de comunicação social.
Algumas notas sobre este
universo, a relação dos poderes, designadamente do poder político, com a comunicação
social que tem algumas particularidades interessantes.
Se estivermos atentos, reparamos
como todos se procuram servir da comunicação social para a defesa dos seus
interesses pessoais, partidários, institucionais, económicos, etc. Nada de
novo, sabemos o peso que a comunicação social tem nas sociedades actuais e nos
últimos tempos também temos tido sucessivos episódios ilustrativos dessas
nebulosas relações.
Nesta matéria, para além das
consequências óbvias destes comportamentos, parece-me particularmente irritante
a forma quase infantil, está um pouco na moda este tipo de infeliz comparação
mas não resisto, como algumas figuras reagem ao ser abordadas pela imprensa
sobre assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer.
Surgem então as afirmações patéticas, “não tenho nada a acrescentar”,
“desculpem, não comento”, “não estou aqui para falar dessas matérias,” “no
estrangeiro não comento questões nacionais”, etc., etc. Este pessoal desenvolve
assim uma espécie de surdez selectiva, só ouve o que lhe convém, de mutismo
selectivo, só fala do que lhe convém, de cognição selectiva, só conhece o que
lhe convém.
No entanto, são também estas as figuras
que directamente ou através de terceiros, lambem as botas às redacções e aos
jornalistas (quanto mais influentes melhor) e pedem, exigem, tempo de antena
quando tal serve os seus diferentes interesses.
Algumas dessas figuras quando,
quase sempre fruto do alpinismo partidário, ascendem a alguma forma de poder
conseguem ainda ir mais longe nessa relação com a imprensa, se não lhes agrada
calam-na como também não é raro. É um método velho e intemporal.
Devo confessar que tal cenário é,
para mim, profundamente irritante e patético, sinto que nos insultam, que nos
consideram destituídos, como se por não abordarem as diferentes matérias, elas
não se passassem ou não existissem ou, noutros processos, que somos manipulados
de forma nem sempre perceptível pela opacidade das situações.
Finalmente, incomoda-me também uma
comunicação social, boa parte dela, passiva e resignada, que não confronta as
figuras públicas com estes comportamentos, não os denuncia, e que acorre
solícita quando essas figuras entendem que têm algo a dizer, as mais das vezes,
irrelevante. Também lhe convém esta subserviência interesseira que alguns profissionais
mantêm, também têm as suas agendas. Às vezes são recompensados.
É, quase, tudo farinha do mesmo
saco como dizia a minha Avó Leonor.
40 anos em História é muito pouco tempo e há tiques que teimam em permanecer.
ResponderEliminarTiques?!
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