AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 17 de maio de 2015

EXAMES FÁCEIS, EXAMES DIFÍCEIS? DEPENDE.

A propósito do alarido causado pela intervenção do Presidente do Conselho Científico do IAVE sobre a gestão política da dificuldade dos exames, uma reedição da velha história "O Rei vai nu", algo que toda a gente percebe e ninguém refere, deixo aqui umas notas que coloquei em Julho do ano passado a propósito da dificuldade do exame de Matemática da segunda fase do 12º.

"Quando era aluno do Básico e do Secundário não me lembro de achar que um teste ou exame era fácil. No entanto, sempre havia um adulto por perto que fazia questão de afirmar que para quem sabe, os testes e exames não são difíceis, só para quem não sabe. Ouvia e seguia o meu caminho num tempo em que a pressão para a excelência como condição de sucesso ainda não tinha sido inventada ou, pelos menos, não era muito generalizada, o que me permitiu ir fazendo um trajecto sem rasgos mas bem sucedido até ao final do Secundário e entrar no superior para cumprir a paixão que se mantém até hoje.
Vem esta introdução, provavelmente, estranha, a propósito de uma questão que me parece sempre curiosa, as apreciações divergentes sobre a dificuldade dos exames realizadas pelos especialistas, ou seja, por gente que sabe.
De facto e por exemplo, é sempre com curiosidade que vejo a divergência frequente entre a Associação dos Professores de Matemática e a Sociedade de Matemática na apreciação ao grau de dificuldade dos exames nacionais da disciplina. Desta vez trata-se do exame da segunda fase do 12º e, para não variar, a Associação dos Professores de Matemática acha o exame “demasiado extenso” e “não respeitou o programa” pelo que  os alunos com médias do secundário entre os 10 e os 12 valores “não têm hipótese nenhuma no exame”. No meu tempo estaria liquidado.
Ao contrário a Sociedade Portuguesa de Matemática considera que o exame conforme os programas e o exame de ontem “permite que o aluno médio, que se tenha preparado devidamente, possa obter uma classificação que reflita adequadamente o seu nível de conhecimentos e preparação”.
Como se explica esta recorrente divergência?
Volto à minha questão, os exames constituem-se, do meu ponto de vista, como uma arma privilegiada da gestão política do universo da educação. Sempre o foram. Como é sabido, umas médias um bocadinho mais altas vêm a calhar, os alunos e professores "corresponderam" com o seu trabalho ratificando a bondade das medidas de política educativa em curso. Por outro lado, resultados mais baixos mostram a falência das políticas dos que nos antecederam. Acresce a insustentável decisão do MEC de atribuir créditos às escolas que diminuam a diferença entre avaliação interna e externa o que introduz um factor de distorção dos dispositivos de avaliação.
Neste contexto, através da "modulação", por assim dizer, da sua dificuldade, poder-se-á influenciar os resultados no sentido esperado e mais favorável a interesses de circunstância. Da mesma forma, acreditando na competência científica dos elementos de diferentes entidades que se pronunciam sobre a dificuldade ou ajustamento das provas, as divergências tão significativas estarão certamente contaminadas por outros factores como visão da educação, o papel dos exames, a conflitualidade partidária, etc.
Não é que não possa acontecer e ser legítima a diferença. Apenas me parece que tudo devia ser mais claro e transparente."

PS - Ainda só tivemos um exame, Português do 4º ano, e já surgiu a discordância sobre o grau de dificuldade. É o destino

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