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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

"VISITA DE MÉDICO"

"As consultas para atender doentes com gripe nos centros de saúde da região de Lisboa e Vale do Tejo durante o horário alargado devem ser marcadas com intervalos de 10 minutos. A indicação está a ser dada aos profissionais através de circular."
Aqui está uma espécie de ovo de Colombo, levando à letra a conhecida expressão "visita de médico" haveria médicos para todos e urgências sem grande tempo de espera. Com um pouco mais de ambição, porque não um máximo de 5 minutos por consulta?
A ideia nem sequer é nova. Em 2014 o Tribunal de Contas(?) numa auditoria ao SNS produzia uma "orientação" no sentido das consultas médicas durarem um máximo de 15 minutos. Estamos a fazer progressos.
Oxalá Nuno Crato não se lembre de diminuir mais as horas de aulas para precisar de menos professores que se juntariam aos 30 000 que saíram nos últimos três anos.
Parece razoavelmente claro que para realização de uma consulta médica, não apenas o preenchimento de receituários ou da requisição de exames complementares, 10 minutos são insuficientes para um trabalho de qualidade.
Como é sabido, muitas das pessoas que recorrem às consultas, mesmo nas urgência, são idosas que frequentemente sofrem de “sozinhismo”,a doença de quem vive só, que se minimiza no convívio com outros sós na sala de espera e na atenção de um médico que escuta, por vezes, mais a dor da alma que as dores do corpo, mesmo que pareça uma "simples" gripe que, aliás, de tão simples que é, nem se percebe as consequências graves que, frequentemente, tem.
Já estive envolvido em circunstâncias, pessoais ou acompanhando familiares, em que o médico claramente estava pressionado pelo tempo que (não) podia dedicar, a atitude que (não) podia demonstrar, a comunicação que (não) podia estabelecer. As muitas pessoas com horas de espera na sala inibem-no na disponibilidade e tempo necessário a uma consulta que, de facto, o seja, e não um acto administrativo realizado sob pressão da "produtividade".
Ainda assim, nada que se estranhe num tempo em que os números se sobrepõem às pessoas.

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