Há umas horas estava o escriba na farmácia, esperando a sua vez e ocupando um das duas cadeiras disponíveis. Ao lado senta-se um velho, agora parece que se chama sénior, que vinha encostado a uma bengala, tal como o escriba.
O Velho saca de um envelope de receitas médicas e vai comentando comigo, O Ano vai Novo, mas isto é tudo velho, "este remédio faz-me falta, disse a doutora, Mas é caro. Este também me faz falta, disse a doutora, mas também é caro." E lá ia prosseguindo num exercício que iria acabar na difícil escolha sobre que medicação comprar, "a doutora disse que lhe fazia falta" e a medicação a que os seus rendimentos não permitem chegar mas que "a doutora também disse que fazia falta".
Entretanto fui chamado, comprei o que me fazia falta e tinha sido prescrito e o Velho lá ficou envolto nos seus dilemas de (sobre)vivência.
Deve ser a isto que chamam racionalidade no Estado Social, escolher a medicação que se toma não porque se precisa mas porque é aquela para que o dinheiro chega. Assim, dirão, (sobre)viveremos de acordo com as nossas disponibilidades.
Há um pequeno pormenor, existe muita gente a viver abaixo das suas necessidades mas como sabem o País está melhor e os sacrifícios que Todos fizemos valeram a pena.
O Velho continua, como sempre, a fazer o sacrifício que lhe compete e e assim continuará a fazer até partir, aliviando, então, o orçamento da Segurança Social.
Que venha o Ano Novo, velho de sofrimento para tanta gente.
O Velho continua, como sempre, a fazer o sacrifício que lhe compete e e assim continuará a fazer até partir, aliviando, então, o orçamento da Segurança Social.
Que venha o Ano Novo, velho de sofrimento para tanta gente.
A sua história avivou-me a memória para uma outra da qual fui testemunha vai para aí uma década.
ResponderEliminarUma senhora de idade avançada e já com alguma dificuldade de locomoção pede á empregada da padaria " D. Fininha dê-me as três bolinhas do costume". Informou a D. Fininha " Olhe, D. Amélia, as bolinhas hoje são mais caras 1 cêntimo" Resposta da D. Amélia sem hesitação "Então passo a levar apenas duas"
Já tem dez anos esta história...A culpa não é da crise, mas sim dos políticos que nos têm governado desde a primeira República. Sim, meto todos no mesmo saco!!!