AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 20 de dezembro de 2014

A RELAÇÃO COM A ESCOLA. A ESCOLA SERVE PARA QUÊ?

Ainda considerando o estudo A Saúde dos AdolescentesPortugueses, que integra o trabalho internacional Health Behaviour in School-aged Children, da responsabilidade da OMS, coordenado em Portugal pela excelente equipa da Professora Margarida Gaspar de Matos e que citei no texto anterior, gostava de retomar mais alguns indicadores retirados do enorme volume de informação que justifica análise mais atenta e aprofundada.
Recordo que neste estudo, realizado de quatro em quatro anos, foram envolvidos 6026 alunos do 6.º, 8.º e 10.º ano, de Portugal continental, com idades entre os 10 e os 20 anos (idade média de 14 anos).
Assim, umas notas breves sobre a relação com a escola que emerge da inquirição destes adolescentes.
É importante registar que 73% afirma gostar genericamente da escola, 87% gosta dos colegas mas o que nos parece mais significativo ainda que não inesperado até porque é corroborado por outros estudos, 53.9% gosta dos professores, mas apenas 39% gosta das aulas. Segundo os adolescentes inquiridos, mais de seis em cada dez, entendem que a “matéria” é “muito difícil”, “aborrecida” e “demasiada”. Importa ainda considerar o número significativo de alunos que não vê, não sente, acolhidas e respondidas na escola as dificuldades resultantes das suas necessidades especiais.
Esta relação com a escola, com valores mais elevados que noutros países, não é surpreendente, em particular para quem conhece o universo das escolas públicas e também emerge noutros estudos.
O que se torna mais objecto de reflexão é a consistência sem alteração significativa desta relação com a escola que parece não ser devidamente valorizada e percebida como integrante e promotora de projectos de vida sólidos e viáveis. Aliás, apenas 54.9% tem intenção de frequentar o ensino superior, menos quase 10% que há 4 anos.
É por questões desta natureza que a organização, os tempos e as actividades da escola, os conteúdos curriculares, a estabilidade e do corpo docente como factor estabilizador e estruturante da relação com os alunos, da definição de uma oferta formativa e de percursos diferenciados sem que umas sejam consideradas de “primeira”, destinadas aos bons alunos e outras vias, sejam percebidas como de “segunda” e destinadas aos falhados e menos competentes, a definição de climas de escola amigáveis para professores, funcionários pais e alunos, existência de apoios eficazes às dificuldades, e de técnicos com intervenção em processos de aconselhamento, orientação e regulação de comportamentos e aprendizagem, etc., etc., são dimensões essenciais e que, do meu ponto de vista, a política educativa dos últimos anos não tem acautelado, não promovendo uma escola assente em princípios de educação inclusiva e com qualidade e com os recursos necessários.
Por outro lado e finalmente julgo ser necessário encarar de forma séria o trabalho com as famílias pois, que para muitas elas, sabemos quantas e quais, é insuficiente o que um director de turma, por mais empenhado e motivado que seja, possa realizar.
No entanto, os ventos que sopram da 5 de Outubro conseguem fazer, creio, o pleno, muitos alunos, professores e funcionários embora gostem genericamente da escola, desgostam da sua escola, da escola que têm.

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