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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

MIÚDOS ONLINE

"Mais de 70% dos jovens portugueses com sinais de dependência da Internet"

O Público divulga um estudo realizado por uma equipa do ISPA - Instituto Universitário sobre a relação de adolescentes e jovens com a Internet. Os dados conhecidos merecem leitura e reflexão atentas.
Mais de 70% das centenas de jovens inquiridos, entre os 14 e os 25 anos, apresenta sinais de dependência da relação com a net. Destes, 13% apresenta níveis severos de dependência. Esta situação tem consequências em diferentes dimensões da vida dos adolescentes e jovens, nomeadamente no relacionamento interpessoal e funcionamento social e escolar.
Estas dados, preocupantes pelos seu volume e consequências, vão no mesmo sentido da realidade já caracterizada no âmbito do projecto europeu EuKids Online em 2013. O uso continuado da Internet repercute-se em 45% das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não comer, falhar nos trabalhos de casa, deixar de socializar, tentar passar mais tempo online. Em termos europeus apenas a Estónia tem um número superior, 49%. 17 % dos inquiridos revelaram a presença de dois sinais, ter deixado de comer ou dormir para estar ao computador.
Para além de outras implicações, por exemplo no campo das relações sociais, algumas notas sobre esta matéria que já não é uma questão emergente mas uma preocupação instalada. Já tenho abordado estas questões a propósito das implicações do uso excessivo das novas tecnologias no desenvolvimento de crianças e adolescentes, designadamente nos hábitos e saúde do sono, um problema que carece de atenção.
Um estudo recente realizado nos EUA acompanhando durante seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de relação entre perturbações do sono e o desenvolvimento de problemas de natureza diferenciada no comportamento e funcionamento das crianças.
Esta questão, os padrões e hábitos de sono das crianças, é algo de importante que nem sempre parece devidamente considerada. Também entre nós, vários estudos sobre os hábitos e padrões de sono em crianças e adolescentes têm sido desenvolvidos, segundo os quais mais de metade dos adolescentes inquiridos apresentam quadros de sonolência excessiva e evidenciam hábitos de sono pouco saudáveis. Esta constatação vai no mesmo sentido de outros trabalhos com crianças mais novas. A falta de qualidade do sono e do tempo necessário acaba, naturalmente, por comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Acresce, como os dados do EuKids Online evidenciam, um conjunto de outros riscos decorrentes da utilização menos regulada das novas tecnologias o que solicita alguma reflexão sobre estilos e hábitos de vida. Um dos problemas emergentes e preocupantes neste universo é o chamado cyberbullying  a que já aqui me tenho abordado. Segundo alguns estudos, perto de 50% das crianças até aos 15 anos terão computador ou televisor no quarto, além do telemóvel.
Acontece que durante o período de sono e sem regulação familiar muitas crianças e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou telemóvel. Com é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
Creio que, com alguma frequência, os comportamentos dos miúdos, sobretudo nos mais novos, que são de uma forma aligeirada remetidos para o saco sem fundo da hiperactividade e problemas de atenção, estarão associados aos seus hábitos e padrões de sono como, aliás, os estudos parecem sugerir.
Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos miúdos, são problemas novos para muitos pais, eles próprios com níveis baixos de alfabetização informática. Aliás, dados da Comissão Europeia divulgados este ano mostram que 55% dos portugueses tem baixa ou nenhuma habilidade para lidar com tecnologias digitais, 33% nunca utilizou a Internet sendo que a média europeia é de 20%.
Talvez estes valores ajudem a perceber porque Portugal é um dos países em que os pais menos revelam saber o que os filhos fazem com a net. É também o país em que as crianças e jovens utilizam mais as novas tecnologias que os adultos. É ainda de referir um estudo divulgado há algum tempo evidenciando que os jovens portugueses já dedicam mais tempo à net e ao telemóvel que à televisão.
De facto, estes indicadores revelam, por um lado, da iliteracia informática dos adultos/pais portugueses que os inibe de tentar acompanhar devidamente as actividades dos filhos neste domínio, cujos riscos de utilização vão sendo identificados. Por outro lado, sublinham a importância que esta actividade assume na vida dos mais novos o que remete, de novo, para a necessidade urgente de promover a alfabetização informática dos adultos. 
A experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.

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