AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 2 de novembro de 2014

FALAR PORTUGUÊS PARA FALAR LUXEMBURGUÊS

"Alunos proibidos de falar português 

preocupa comunidade no Luxemburgo"

A imprensa dos últimos dias tem vindo a fazer eco de uma decisão que algumas escolas ou directores de escola no Luxemburgo tomaram proibindo crianças portuguesas ou filhas de portugueses de se expressar na sua língua materna, nas aulas e noutros espaços de creches e escolas.
Algumas notas. 
Em primeiro lugar este problema não é novo, acontece em muitíssimos países, incluindo Portugal, que recebem imigrantes, verificando-se uma enorme pressão, por vezes acima do aceitável, para que as crianças rapidamente se exprimam na língua do país de acolhimento.
Uma segunda nota para sublinhar que a utilização por parte de crianças pequenas de mais do que uma língua não é um factor de risco, antes pelo contrário, é um factor de desenvolvimento em várias dimensões conforme variados estudos demonstram. Em muitas circunstâncias, o que acontece é, por um lado, a crença de que é negativo e a insistência insensata em proibir a utilização da língua mais confortável para a criança e, por outro lado, esta atitude, como parece verificar-se no Luxemburgo, está com frequência ligada ao "estatuto" por assim dizer, da língua materna. Dito de outra maneira, se as crianças fossem filhos de imigrantes ingleses ou americanos talvez não fossem proibidas de falar inglês. Também por cá aconteceu com o uso do crioulo.
Importa ainda acentuar que a comunicação é a ferramenta mais potente de integração e participação em comunidade. Neste sentido, apesar do esforço para que as crianças, sobretudo as mais novas, aprendam a língua da comunidade de acolhimento, é imprescindível que possam a usar a sua própria língua como forma de comunicação, de integração e até mesmo de aprendizagem da língua estrangeira.
Por estas razões, a proibição é inaceitável, corre o sério risco de "guetizar" as crianças e inibir a sua participação e integração na comunidade escolar e social luxemburguesa.
A não ser que seja justamente esse o objectivo.

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