AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A PERGUNTA

A Maria entrou na biblioteca da escola com o seu ar mais habitual, triste. Sentou-se a olhar para um livro que, desarrumado como ela, a esperava em cima de uma mesa. Não parecia estar a ler, antes a ler-se.
O Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, de mansinho, sentou-se ao pé da Maria, sem dizer nada, a olhar para ela.
Olá Velho, estás a olhar para mim porquê?
Maria, estou a olhar para ti porque tens uns olhos bonitos e porque acho que me queres dizer alguma coisa, os teus olhos estão tristes.
É Velho, os olhos estão tristes porque eu estou triste e quando a gente fica triste, o corpo também fica.
E estás triste porquê?
Porque a Professora Joana não gosta de mim, como outras pessoas.
Eu gosto de ti Joana,
Eu sei Velho, mas a Professora Joana não e eu não sei porquê. Tu que já foste professor, podias saber porque ela não gosta de mim.
Vou pensar Maria, depois digo-te alguma coisa.
A Maria saiu. No dia seguinte, ao fim da manhã, voltou à biblioteca e, contrariamente ao costume, trazia os olhos a rirem-se.
Professor Velho, não precisas de pensar nada, a Professora Joana já gosta de mim. Hoje na aula, fez-me uma pergunta, eu até nem soube responder, mas ela já gosta de mim, faz-me perguntas. Quando a gente gosta das pessoas quer saber se elas aprendem e sabem, não é Velho?
Claro, Maria.

3 comentários:

  1. Esta história leva-me a um episódio real.
    Dizia-me ontem a minha filha que o professor de matemática pedia para serem sinceros e dizerem quando não perceberem alguma coisa. Dito isto, ela - que tem de facto dificuldades grandes a matemáticas - disse que não tinha percebido o que ele tinha explicado. O comentário foi do género "A ti, nem vale a pena explicar". Diz ela que ficou quase a chorar.

    Percebo o professor, acredito que também eles, os professores, percam a paciência e se sintam tentados a desistir mas é preciso ver o outro lado. Como a minha filha dizia, ela não tem culpa de não conseguir.

    Cristina

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  2. Olá Cristina,

    Não é, lamentavelmente, uma situação rara, muitos alunos lidam com expectativas baixas por parte dos professores e mesmo dos pais.
    Posso usar a sua história para compôr um pequeno texto um dia destes?

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