AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O FUTURO NÃO MORA AQUI

"Quase metade dos universitários acredita que em 2020 viverá fora de Portugal"

Um estudo realizado pela Universidade Católica e uma consultora, Imago,  Geração 2020: O futuro de Portugal aos Olhos dos universitários, identificando as expectativas de estudantes universitários para os próximos anos evidencia alguns dados interessantes que motivam umas notas.
Cerca de 46% dos jovens universitários inquiridos  exprime a convicção de que terá de emigrar.
Caracterizando a valorização dos jovens de conceitos com carga negativa e com carga positiva, "emigração" é uma referência para 50% e "esperança" o conceito positivo com mais referências escolhido por apenas 52%. De entre os que obtiveram mais escolhas, acima de 30%, surgem "desemprego", "pobreza", "solidariedade", "revolução", "cultura" e "juventude".
Apesar destes indicadores, 64% dos inquiridos acredita que serão agentes de mudança, tal como as universidades, a instituição em que mais confiam como capaz de promover mudança", 81%, exprimindo ainda uma confiança elevada na família (59%) e na Europa (46%). Em contraponto, as instituições em que menos acreditam como promotores de mudança são os partidos políticos (13%)  e a igreja católica (7%).
Estes dados indiciam as recorrentes preocupação dos jovens com um futuro que para muitos deles não passa por aqui.
Na verdade, a emigração parece estar a constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro onde caiba um projecto de vida positivo e viável, algo que por cá não é fácil de definir
Aliás, vários outros inquéritos a estudantes universitários mostram como muitos admitem emigrar em busca de melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa. Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar, se sente qualifica e com o desejo de construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
De todo este cenário, resulta o retrato de um país pobre, envelhecido, onde poucos querem fazer nascer crianças, donde muitas pessoas, sobretudo jovens, partem, fogem, à procura de uma vida que aqui lhes parece inacessível.
Por outro lado a sua expectativa de mudança, assente em si, na universidade e na família e ao mesmo tempo não confiando de todo nas traves mestras do nosso sistema político, os partidos parece conduzir a um caminho sob forte ameaça, o seu trajecto pessoal ameaçado pela falta de oportunidades, as universidades sob ameaça de uma política cega de desinvestimento e as famílias ameaçadas por dificuldades enormes de que se não vislumbra a recuperação significativa.
E o futuro? O futuro não mora aqui.

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