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terça-feira, 30 de setembro de 2014

JÁ NÃO AGUENTO

"Cerca de 7% dos adolescentes magoam-se intencionalmente"

A imprensa faz referência a um estudo orientado pelo Professor Daniel Sampaio sobre os comportamentos de autolesão, "Comportamentos autolesivos em adolescentes: Características epidemiológicas e análise de factores psicopatológicos, temperamento afectivo e estratégias de coping", que importa considerar. Cerca de 7% dos jovens inquiridos já se autolesaram. Se acrescentarmos os que referem já ter sentido pensamentos de autolesão a percentagem sobe para 13.%. O universo dos inquiridos abrange 1713 jovens, dos 15 aos 20 anos, de 14 escolas públicas da região de Lisboa
Estes dados são preocupantes e vão na linha de outros indicadores. Recordo que em 2011 no estudo coordenado pela Professor Margarida Gaspar de Matos  sobre a saúde e os comportamentos dos adolescentes portugueses, realizado no âmbito da OMS, cerca de 15.6 % dos adolescentes inquiridos, com catorze anos de idade média, afirma já se ter magoado de propósito mais do que uma vez nos últimos doze meses à data do estudo. Os comportamentos de automutilação em adolescentes são mais frequentes do que muitas vezes pensamos. Alguns estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com comportamentos de automutilação pelo que os dados encontrados em Portugal são, de facto, preocupantes.
Este quadro é um indicador do mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de comportamentos autodestrutivos. Começa também a emergir como causa deste mal estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lidar com situações de insucesso escolar. Estas dificuldades são frequentemente potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes se instala.
O sofrimento e mal-estar induz uma espiral de comportamentos em que os adolescentes causam a si próprios sofrimento que promove mais sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de perplexidade, impotência e sofrimento para as famílias também extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes não damos  ou não conseguimos dar atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa parte do seu tempo boa parte do seu tempo. De facto em muitos casos, designadamente, em comportamentos de automutilação, pode ser possível perceber sinais ou comportamentos indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. É também importante que pais e professores atentos não hesitem nos pedidos de ajuda ou apoio para lidar com este tipo de situações. Muitos pais, diz-me a experiência, sentem-se de tal forma assustados que inibem um pedido de ajuda por se sentirem culpabilizados, envergonhados ou simplesmente por medo.

O resultado pode ser trágico.

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