"Portugal registou menos 957 nascimentos até Agosto"
A situação portuguesa no que
respeita aos nascimentos e renovação geracional continua a agravar-se. Apesar
da retórica política sobre esta matéria, parece cada vez mais difícil reverter
a tendência como alguns países europeus já conseguiram, casos da França e
Irlanda.
Aguarda-se o repetidamente
anunciado pacote de medidas do Governo com o objectivo de "remoção dos
obstáculos à natalidade". Algumas notas registando como encaro com
reservas medidas que não alterem alguns aspectos das políticas seguidas nos
últimos anos.
Como aqui escrevia há dias,
Portugal integra o grupo com menores apoios sociais para que os pais fiquem
mais tempo em casa com filhos pequenos sendo que sobretudo nas zonas mais
urbanas, (o interior desertifica-se o que também contribui para a baixa
natalidade), a oferta de estruturas formais de acolhimento de bebés e crianças é
insuficiente. Acresce que Portugal tem um dos mais elevados custos de
equipamentos e serviços para crianças.
Vivemos com uma taxa de
desemprego que, oficialmente, ronda agora os 15% mas que sabemos atingir
bastante mais gente. Muitas destas pessoas são sobretudo jovens ou mais idosos,
o que, por razões diferentes, uns não podem assumir o encargo com filhos, os
outros porque não têm recursos para ajudar os seus filhos, torna difícil a
promoção da natalidade.
Importa ainda não esquecer a
discriminação salarial de que muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor
qualificação, são ainda alvo e a forma como a legislação laboral e a sua
“flexibilização” as deixam mais desprotegidas. São conhecidas muitas histórias
sobre casos de entrevistas de selecção em que se inquirirem as mulheres sobre a
intenção de ter filhos, sobre casos de implicações laborais negativas por
gravidez e maternidade, sobre situações em que as mulheres são pressionadas
para não usarem a licença de maternidade até ao limite, etc. Foi recentemente
noticiado que algumas empresas exigem às mulheres um compromisso de que não
irão engravidar nos próximos 5 anos. Não adianta argumentar com o quadro legal
existente ou que venha a existir. Em Portugal a lei tem mais um carácter
indicativo que imperativo.
Em tempos altamente competitivos
com a proletarização do trabalho com cortes sucessivos nos salários e nas
prestações sociais, as pessoas hipotecam os projectos de vida em troca das
migalhas que permitam a sobrevivência o que lhes retira margem negocial ou
liberdade de escolha.
A fiscalização e regulação são
insuficientes, uso e abuso de estágios não remunerados ou miseravelmente pagos
e que não asseguram continuidade, condições de trabalho degradantes cuja não
aceitação implica a perda do lugar em troca por alguém ainda mais necessitado
e, portanto, calado.
A promoção de projectos de vida
familiar que incluam filhos implica, necessariamente, intervir nas políticas de
emprego e protecção do emprego e da parentalidade, na discriminação e combate
eficaz a abusos e a precariedade ilegal, na inversão do trajecto de
proletarização com salários que não chegam para satisfazer as necessidades de
uma família com filhos e custos elevados na educação apesar de uma
escolaridade dita gratuita, na fiscalidade, por exemplo. A questão é que a
política que tem vindo a ser seguida não permite acreditar que existam
alterações.
Por outro lado, é urgente a
acessibilidade real (na distância e nos custos) aos equipamentos e serviços
para a infância com o alargamento da resposta pública de creche e educação
pré-escolar, cuja oferta está abaixo da meta estabelecida.
É uma questão de futuro.
Tudo o que escreve é verdadeiro relativamente aos motivos para a baixa natalidade. Há, no entanto, um motivo maior. As pessoas não querem ter chatices. E acho que isso resume tudo.
ResponderEliminarNão me parece que seja exactamente assim. As mulheres sentem que a sua carreira fica em cusa (e fica muitas vezes) para além das dificuldades dos jovens casais, casa, emprego, estabilidade ou precariedade, etc.
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