AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 28 de setembro de 2014

A CAPACIDADE DE OUVIR DOS PORTUGUESES

Um estudo, Estudo sobre a audição da população em Portugal, hoje divulgado a propósito do Dia Mundial do Surdo sugere que 60 % dos inquiridos entende ouvir bem. Será?
Umas notas sobre a capacidade dos portugueses para ouvir.
No que respeita aos miúdos acho que muitos de nós revelamos alguma dificuldade em os ouvir. Se bem repararmos, é com frequência que os adultos se queixam de que os mais novos, quase todos, gritam imenso, não conseguem, aparentemente, manter um registo sereno na linguagem e também no comportamento. Na minha perspectiva e na maioria das circunstâncias, os miúdos agitam-se e gritam porque nós os ouvimos pouco e mal, precisam mesmo de gritar para que os consigamos ouvir e escutar.
Acontece ainda que, por vezes, quando os ouvimos reagimos desadequadamente para ver se eles se calam, de preferência rapidamente para poupar birras e ou embaraços
Será que os ouvimos se eles falarem mais baixo?
Se bem estivermos atentos, em variadíssimas situações ter voz depende do volume de voz que tem de ser uns decibéis acima do tom normal de voz, ouve-se quem grita mais alto, sobre o ruído de fundo e o som de outras vozes que se elevam para que sejam ouvidas. Este mundo de gritos passa-se em casa, passa-se na escola, passa-se no mundo profissional, nos debates (!) de ideias, etc.
Vai acontecendo que se não gritarmos não nos ouvem e, tantas vezes, instala-se uma cacofonia ensurdecedora, rigorosamente ineficaz e cansativa que se deve, creio, a uma crescente incapacidade de ouvirmos o outro, estamos demasiado centrados no nosso próprio discurso.
Neste cenário e como seria previsível existem grupos de pessoas que têm uma enorme dificuldade em se fazer ouvir, as pessoas em situação de maior fragilidade ou vulnerabilidade, de uma forma geral, as minorias.
Por outro lado e de forma aparentemente paradoxal também é possível observar situações em que o silêncio é de tal modo ruidoso que parece impossível que não oiçamos esse silêncio e pensemos nas suas razões.
Na verdade continuo na minha, ouvimos de menos.
Finalmente, para dificultar ainda mais as questões da capacidade de ouvir boa parte de nós desenvolve com naturalidade o mais comum dos problemas de audição, só ouvimos o que queremos, temos uma surdez selectiva.

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