Ser pai ou mãe para a esmagadora maioria
das pessoas que passam por essa condição é, como sempre foi, uma experiência
extraordinária ainda que, evidentemente, com alguns sobressaltos que por vezes
se traduzem em inquietações.
Nos dias que correm, por várias
razões, a parentalidade envolve algumas dimensões que não podemos deixar de
considerar. Sem ser exaustivo temos as alterações profundas nos estilos de
vida, nas condições económicas e enquadramento profissional, nas alterações de
modelos culturais e sociais, nos níveis de qualificação médio das pessoas, etc.
Este conjunto de alterações
repercute-se com nitidez de forma diferenciada nas famílias e nas acções dos pais.
No entanto, apesar desta
complexidade e da diversidade de circunstâncias, continuo, como várias vezes tenho referido, a entender que uma condição essencial no "trabalho dos pais" é ser atento,
atento aos filhos e ao que está à volta deles.
Lamentavelmente, também me
parece, que estar atento, é o que mais difícil se torna de ensinar a qualquer
pessoa, aos pais também, independentemente do seu grau de qualificação ou
condição económica.
Deste entendimento resulta que,
do meu ponto de vista, muitas das inquietações que sentimos com os filhos
resultam, frequentemente, de alguma desatenção, que não será intencional, não
será por incompetência mas ... acontece. Também acontece que uma atitude mais
desatenta continuada acaba por produzir efeitos, primeiro mais
"simples", os comportamentos dos miúdos para "chamar a
atenção", como se costuma dizer e, posteriormente de formas mais
"pesadas" e já de maior dificuldade. Felizmente, a maioria dos pais são, como se espera, pais atentos.
Vem tudo isto a propósito de uma
pequeníssima história de ontem ao fim da tarde. Perto do sempre lindo pôr do
Sol na Caparica passeávamos pelo "pontão" das praias.
Na nossa direcção caminhava ainda
a tropeçar nos pés uma gaiata que teria entre os dois e os três anos. Um pouco
mais atrás vinham elementos da família entre as quais, deu para perceber, a mãe
que vinha ao telemóvel. Num tropeção maior a miúda acabou por cair num piso que
não é nada amigável, gravilha e areia em cima de betão e o choro aflitivo foi
imediato e fortíssimo.
A mãe, sem largar o telemóvel e a
animada conversa, limitou-se a "içar" a gaiata do chão e a continuar
a andar. Ao passar por mim ainda oiço a mão dizer para a miúda se calar pois não
conseguia ouvir a pessoa com quem estava ao telefone. E lá continuou aquela
família a passear tranquilamente à beira-mar ao pôr do Sol numa tarde
lindíssima agora com banda sonora acrescentada, o choro da criança.
Não tenho nenhuma ideia de super-protecção
dos miúdos, entendo que cair e levantar é uma aprendizagem, que a autonomia
imprescindível ao crescimento saudável envolve algum risco que nos ensina os
limites. Mas também entendo que os miúdos precisam de sentir ao seu lado alguém
que "repare" e se interesse pelo que lhes acontece, que esteja "atento". Ser
autónomo não é ser só, é ser mais capaz por si ... com os outros.
Realmente isso é uma constante e além de me dar a volta ao estômago refilo sempre e quase sempre interrompem ou desligam os malditos telemóveis.
ResponderEliminarUma vez mais o meu obrigado pelos seus textos...para mim um aprendizado constante!
Um abraço