AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 16 de agosto de 2014

ELES, OS GAJOS

"Salgado culpa crise e gestores da família"

Ao que parece, um antigo Espírito Santo e actual Ricardo Salgado vai assentar a sua estratégia de defesa na cena canalha em que está envolvido, responsabilizando a crise e todos os outros que andavam à sua volta.
Confesso que esperava um pouco mais de um Espírito Santo. Culpar a crise e os outros parece pouca coisa. O enxame de advogados muito bem pagos que se responsabilizarão pela parte operacional terão de ser mais criativos e eficientes. Estou, aliás, convencido de que o serão e farão uso de todas os buracos e alçapões que as leis que esses escritórios de advogados também produziram contêm para que finalmente um espírito Santo passe a ser um Espírito Livre, provavelmente, à nossa custa.
No entanto a ideia de Ricardo Salgado para a sua defesa é uma manifestação da sua "tugalidade", é um verdadeiro tuga.
De facto, também ele acredita na existência de uma entidade mítica responsável por tudo, sobretudo de menos bom, o que nos acontece e nos diz respeito. Não, não estou a falar de uma entidade divina, de um Espírito Santo, estou a falar de algo mais complexo, se assim se pode dizer. Estou a referir-me a “ELES”. Se bem repararem, “ELES” estão absolutamente enraizados nos nossos discursos quotidianos. Apenas alguns exemplos. “Só querem o deles”, “Eles é que mandam”, “A culpa é deles”, “Eles querem assim, a gente faz”, “Eles apanham-se lá e estão-se nas tintas”, “Eles não fazem nada”, “Eles aumentam tudo”, “Isso é que era bom, faço como eles, que se lixe”, “Eles só fecham coisas”, “Eles só falam”, “Eu fazer mais? Façam eles”, “Eles têm grandes ordenados e depois não chega para a gente”, “Eles dão maus exemplos querem que a gente faça o quê?”, “Eles estão cheios dele e a malta na miséria”. “Eles pensam que somos parvos”, "Eles lá na Europa decidem e a gente lixa-se", etc. etc.
O mais curioso, é que quando se tenta perceber sobre quem objectivamente estamos a falar, parece que se trata de todos menos de mim, ou seja, é sobre ELES. E assim explicamos a nossa vidinha. Como se vê no discurso de Ricardo Salgado, é apenas uma questão de escala.

PS – Por vezes, a referência a “ELES” é substituída pela fórmula, “OS GAJOS” o que empresta uma natureza bastante mais popular aos discursos.

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