AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 9 de agosto de 2014

AS PESSOAS QUE SOBRAM

Durante a manhã aqui no monte enquanto se andava na rega, eu e o Mestra Zé Marrafa íamos trocando umas lérias, como sempre acontece.
O Mestre Zé é homem de setenta e alguns com uma capacidade de trabalho e uma sabedoria sobre as coisas da terra e da vida alentejana que não tem fim e não poucas vezes me deixa embaraçado quando tenho de parar e ele se ri com aqueles olhos pequenos.
A conversa de hoje desenrolou-se sobre as pessoas, as suas qualidades e os seus defeitos. Às tantas, o Velho Marrafa diz que há pessoas que sobram sempre. Nunca me lembro de ter ouvido tal enunciado assim aplicado e a curiosidade levou ao pedido de explicação.
Olhou com aqueles olhos pretos sempre a rir e afirmou qualquer coisa nestes termos, "Ora Sr. Zé, uma pessoa que sobra é assim que alguém que não tem grande serventia, serve para pouca coisa, não gosta de trabalhar, não tem jeito para nada, às vezes nem para o cante ou para as lérias, que é coisa que toda a gente gosta, sobram sempre, não são companheiros para nada desta vida, olhe, alguns nem servem de companha para comer".
E continuou mais uns minutos a explicar com toda a gente deve saber e querer saber fazer alguma coisa que seja útil. Uma pessoa que saiba fazer qualquer coisa, nunca sobra, tem sempre companheiros.
Nunca tinha pensado nas pessoas que sobram, a partir deste ponto de vista. Sempre a aprender com o Velho Marrafa. 
O Velho Marrafa nunca sobra, sabe muito, é bom de companha, para usar as suas palavras.

2 comentários:

  1. Pelo que tenho lido, acho que o Sr. Zé também não é uma das pessoas que sobram!

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  2. Ainda citando uma expressão recorrente do Velho Marrafa, "Deixe lá ver". :)

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