No I de hoje conta-se a história a arrasadora do João, 11 anos, que
tendo, por acaso do destino, nascido numa família que não o foi, entrou numa
instituição e posteriormente num processo de adopção.
Algum tempo passado, a família adoptiva devolveu-o por
comportamentos que quem o conhece e acompanha agora, de novo numa instituição,
não parecem muito plausíveis. O João é também portador de HIV e tem-se
mostrado perplexo, muito inquieto e reactivo face a uma devolução que não sabe
que aconteceu e a uma situação que não compreende, deixou, de novo, de ter uma
família.
Na verdade, os casos de “devolução de crianças em processo
de adopção são mais numerosos do que se imagina. Muitas das decisões tomadas
pelos Serviços de Justiça são incompreensíveis, sobretudo se escrutinadas pelo “superior
interesse da criança”.
Nos últimos anos registaram-se mais de 100 casos de crianças
que foram devolvidas, isto é, viram o seu processo de adopção interrompido.
Muitas destas situações deveram-se ao facto de as crianças "não
corresponderem às expectativas" das famílias adoptantes.
Vejamos com mais atenção. Uma criança, por qualquer razão
não tem uma família, está numa instituição, envolve-se num processo de adopção,
entra numa família que entende passar a ser a SUA família, deve sentir-se num
caminho bonito. Passado algum tempo é devolvida, provavelmente, sem perceber
porquê e vive uma, certamente mais uma, experiência devastadora com efeitos que
não podem deixar de ser significativos.
Como é evidente, admito que em circunstâncias excepcionais o
processo possa ser interrompido mas, insisto, só mesmo numa situação limite.
A lei permite, não sei se terá sido alterada, que durante
seis meses a criança possa ser devolvida, trata-se de um período de adaptação,
uma espécie de contrato à experiência. O Juiz Armando Leandro presidente da
Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, reconhecia há
algum tempo que a devolução não tem de ser baseada em "critérios
necessariamente válidos". Também há algum tempo num trabalho sobre o mesmo
tema, o DN citava um caso em que uma criança foi devolvida e trocada por outra
porque não se adaptava ao cão da família. Outros casos de devolução envolvem
dificuldades de adaptação a outros elementos da família ou a questões
económicas.
Como é de prever, os serviços procuram na fase pré-adopção
prevenir situações deste tipo, embora eles continuem a ocorrer.
Voltando ao tão apregoado "superior interesse a
criança", é difícil imaginar o que se passará na cabeça de um miúdo que
passa anos a construir uma ideia de família, a certa altura entra numa família
a que chama sua e de repente dizem-lhe que volta a estar só, na instituição,
porque ... não se dá bem com o cão ou não corresponde às expectativas. Que
sentirá a criança?
Porquê? Não presta? Não a querem? ...
Mas as crianças, Senhores?
Conheço um caso, chocou-me particularmente, duas gémeas de 2 anos, bonitas mas irrequietas. Contactaram com a família adoptiva durante seis meses na instituição, em visitas semanais. Finalmente o dia de as levarem para casa chegou, uma noite bastou, foram devolvidas no dia seguinte... portaram-se mal.
ResponderEliminarPessoas assim não deveriam poder adoptar nunca mais mas podem!
Embora os processos de adopção constituam uma situação complexa, acontecem casos que não poderiam acontecer.
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