AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 16 de julho de 2014

NÃO VALE A PENA, AS CRIANÇAS NÃO PERCEBEM

"Os bebés treinam mentalmente a fala meses antes de começarem a falar"

A propósito da divulgação deste estudo sobre a relação dos bebés com a linguagem, umas notas aqui colocadas em Abril de 2011.

As muitas conversas em que me envolvo com pais levam-me, por vezes, a ficar com alguma inquietação sobre como comunicam com os filhos pequenos. Estas inquietações têm várias direcções. Numas situações porque basicamente pode dizer-se que não há conversa, a família é um grupo de pessoas com a chave da mesma casa, no dizer de um sociólogo cujo nome não recordo. Outras situações inquietam-me porque encontro pais que entendem que tudo, mas tudo, deve ser falado com as crianças e outras situações ainda os que entendem que não vale a pena conversar com as crianças pequenas porque elas não entendem.
Hoje, umas notas sobre este último cenário. Não é raro que alguns pais não desenvolvam com os miúdos conversas que não passem do registo do quotidiano imediato da escola ou da brincadeira. Por vezes até utilizam um tom que sublinha o facto de se dirigirem a pessoas (os miúdos) que não conseguem entender e conversar sobre coisas “mais sérias”, ou seja, infantilizam conteúdos e formas de comunicação.
Pergunto com frequência aos pais com quem estou se alguém fala alguma coisa de inglês e, como é natural, há pessoas que apenas sabem meia dúzia de palavras até as que dominam a língua inglesa com alguma proficiência. Mas quando pergunto se toda a gente compreende mais em inglês do que aquilo que é capaz de expressar nessa língua, a resposta é afirmativa por parte de todos. Na verdade, independentemente do nível dos nossos conhecimentos, entendemos mais do que nos dizem do que aquilo que sabemos dizer. E é também assim que aprendemos.
Com os miúdos passa-se algo do mesmo tipo. Entendem bastante mais do que, por vezes, são capazes de exprimir, mesmo as crianças com mais dificuldades. Assim sendo, vale a pena conversar com eles, envolvê-los nas nossas conversas desde adequadas às idades (isto é uma outra questão que fica para outra altura). Eles entendem bem mais do que acreditamos, valorizam a sua presença e o facto de partilharmos ideias e opiniões com eles.
É bom para todos, sobretudo porque se trata de uma família.

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