AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O MAL-ESTAR COMO SEMENTE

"Duas crianças de 12 anos esfaquearam colega em sacrifício para o "homem sem cara""

Nos últimos tempos são recorrentes as notícias relativas a problemas sérios no âmbito das relações interpessoais entre adolescentes e jovens, frequentemente noutras paragens, mas também entre nós. Hoje é notícia algo de pouco comum, felizmente, mas de uma violência brutal. Nos Estados Unidos, duas miúdas de 12 anos esfaquearam repetida e gravemente uma outra colega ao que parece "influenciadas" por uma personagem descoberta na net pela qual desenvolveram uma atracção obsessiva.
Na verdade, dão demasiado evidentes e frequentes os casos extremos de violência e abusos entre gente mais nova o que nos leva a questionar os nossos valores, trabalho educativo (família, escola e comunidade), códigos e leis pela perplexidade que nos causam. Esta situação é um exemplo extremo.
A questão que me leva de novo a estas notas é mais no sentido de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar um peso insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio numa escola, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que a punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da insegurança.
Finalmente, a importância de uma permanente atenção às pessoas, desde pequenas,  ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Nos Estados Unidos ou em Portugal.

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