AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 6 de maio de 2014

ENSINO DE INGLÊS OBRIGATÓRIO NO 1º CICLO. Sim, mas ...

"Crato anuncia Inglês nos currículos do 1.º ciclo a partir de 2015/16"

O Ministro Nuno Crato anunciou no Parlamento a introdução do Inglês no currículo obrigatório do 3º e do 4º ano do primeiro ciclo para 2015/2016. Mais informou que esta medida implicará o ajustamento das metas curriculares e obrigará à formação de professores. Algumas notas breves.
Como já tenho referido a propósito da trapalhada do ensino do Inglês retirado das facultativas AECs e dependente da iniciativa das escolas, o que levou a que muitas crianças por insuficiência de recursos não estejam a aceder à aprendizagem do Inglês, a sua introdução no 3º 3 4ºano parece uma medida ajustada e na linha do parecer do CNE sobre esta questão.
Parece-me também que a formação dos professores que assegurararão o ensino do Inglês para crianças de 8 e 9 anos, na sua maioria, deve ser acautelada e vejamos se tal será possível no horizonte definido, quando, simultaneamente, está a decorrer um processo de ajustamento na formação de professores determinado pelo MEC.
Por outro lado, conforme o Ministro explicitou, tornar o Inglês obrigatório obrigará à reformulação das metas curriculares, não estará previsto o aumento da carga horária curricular global. Como também frequentemente tenho referido, as metas curriculares, tal como estão definidas, não me parecem o melhor modelo de regulação das aprendizagens, são excessivas, no 1º ciclo considerando a Matemática e a Língua Portuguesa, estão definidos 177 objectivos e 703 descritores. Se considerarmos turmas numerosas, heterogéneas, fica por perceber como é que tal modelo pode funcionar. Alguns estudos e as práticas conhecidas mostram a enorme dificuldade, para não dizer impossibilidade, em trabalhar com estas metas curriculares, com estes descritores de aprendizagem obrigatória. A acrescentar o Inglês, a situação ficará mais difícil.
Finalmente, uma outra preocupação. O Ministro Nuno Crato terá referido que talvez não seja possível introduzir o ensino do Inglês em todas as escolas no horizonte que foi definido. Como? A ver se percebo. A aprendizagem do Inglês será obrigatória dentro da escolaridade obrigatória o que, creio, significará que TODAS as crianças deverão aceder a essa aprendizagem. O Ministro vem dizer que o Inglês vai nascer mas pode não nascer para todos.
Não é que fique propriamente surpreendido. É lamentavelmente frequente a discriminação e a desigualdade de oportunidades que algumas das medidas do MEC alimentam, lembro-me das questões relativas aos apoios educativos ou a questão do ensino vocacional tal como está em implantação.
No entanto, mais uma vez e sempre, é com alguma perplexidade que registo a "normalidade" com que o Ministro afirma que talvez venha a acontecer que alguns meninos, adivinhem quais e de onde, possam não aceder à aprendizagem do Inglês na mesma altura que os seus colegas.
Pode, no entanto acontecer, que esta afirmação signifique a extensão da Parceria Público-Privada com Cambridge, com o desinteressado e generoso patrocínio de algumas empresas. O processo recente do exame de ingês e da deriva em que se transformou pode ser um ensaio.
Deixe lá ver, como diz o Velho Marrafa lá do Meu Alentejo.

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