Na Assembleia da República
realizou-se hoje um encontro dedicado aos "Direitos fundamentais da
criança e educação inclusiva".
Algumas notas muitas vezes por
aqui reafirmadas.
A educação inclusiva não decorre
de uma moda ou opção científica, é matéria de direitos pelo que deve ser
assumida através das políticas e discutida na sua forma de operacionalizar.
Aliás, poderá afirmar-se, citando Biesta, que a história da inclusão é a
história da democracia, a história dos movimentos que lutaram pela participação
plena de todas as pessoas na vida das comunidades, incluindo, evidentemente a
educação.
Os tempos que vivemos são tempos
de exclusão, de competição, de desregulação ética e de oscilação de valores.
Veja-se a preocupante subida da votação em ideias políticas de direita pouco
favoráveis à inclusão que se verificou nas eleições europeias.
Os sistemas educativos, incluindo
o nosso, parecem ter entrado numa deriva de "normalização", todos
devem aprender tudo ao mesmo tempo, as metas curriculares assim o determinam,
sem intenção ou capacidade de acomodar a diversidade, a característica mais
óbvia de qualquer grupo de alunos.
A educação, em termos globais,
podemos dizer de cidadania, transforma-se na aprendizagem normalizada e
acrítica de competências instrumentais que se devem demonstrar em exames
sucessivos.
Os exames, muitos exames irão
funcionar, em nome da promoção da excelência e do rigor, como um crivo
sucessivo criando grupos de excluídos. Destes, os que tenham maiores dificuldades
ou deficiência serão, é só esperar mais um pouco, encaminhados para as
instituições, pelo menos grande parte do tempo, como já acontece, aliás, com
muitos alunos abrangidos pelo prolongamento da escolaridade obrigatória e que
estão na escola a que pertencem, quando estão, não mais do que 5 horas ao
abrigo de normativo que se diz promotor de inclusão. Aliás, são cada vez mais
frequentes as situações de crianças cujas famílias são "aconselhadas"
a mantê-los mais tempo em casa, pois a escola não tem, ou assume que não a possibilidade
de os acomodar como seria de esperar. Os outros, com mais capacidades mas também
excluídos pelos exames, muitos exames, serão encaminhados para o ensino
vocacional, designação que só por si, como dizia hoje Laborinho Lúcio, é
bizarra, pois de vocacional (de vocação) tem nada, os miúdos são empurrados
para essas prateleiras.
Os pais desesperam por apoios e
respostas às necessidades dos filhos que, apesar da retórica dos sucessivos
governos, continuam por estruturar em qualidade e suficiência.
Finalmente, como sempre afirmo, o
melhor critério de inclusão, qualquer que seja a dimensão considerada, é a
participação, a pertença, o envolvimento. Vamos percebendo pelos relatos e
pelas experiências que a participação é baixa. Muitos alunos com condições
especiais estão na escola mas não "participam", estão no seu
"canto" (este canto pode ter várias designações). Dito de outra
maneira, estão "entregados", não estão "integrados".
Finalizo com a referência à
história contada na primeira pessoa pelo João e que representa uma acusação
fortíssima, "Tenho 22 anos e frequento o 12º ano. Tenho necessidades
educativas especiais e estive integrado numa turma até ao 9º ano. Fazia o que os
meus colegas faziam, gostava deles e sentia-me bem com eles. Agora, apenas assisto
à aula de História, não gosto de estar assim, querem que eu vá tirar um curso
de jardinagem ou de lavandaria, coisa de que eu não gosto. Gosto de música,
museus, organizar eventos. Só queria poder fazer isto".
O João recorda-me um outro jovem com
uma deficiência motora significativa que questionado num documentário
televisivo sobre se acreditava que alguma vez teria possibilidade de uma viver
uma vida “como a das outras pessoas”, família, emprego, etc. O rapaz respondeu
que às vezes sonhava com isso, mas o problema é que, disse ele, “sonhar não
custa, o que custa é viver” .
Terá mesmo que ser assim?
Gostei muito do explanar de ideas referente a este tema que aqui nos deixa o Zé, de facto entregar os alunos à sua sorte, por não se sentirem atraídos ao que o programa lhes propõe é hoje a nota dominante, a luta pela normalização, pela formatação é óbvia, parece-me este sistema educativo(que de educativo nada tem)cada vez mais, com uma linha de montagem de hardware, tudo e qualquer hardware que não sirva é em tom de eufemismo considerado degenerado e entregue à margem, esqueceu-se que a individualidade é o cunho básico da existência, a base para a genialidade-que não convêm a uma máquina capitalista-e formatam-se pessoas ao invés de educar, de sondar vontades, sensibilidades, que poderiam fazer despertar talentos, talentos intrínsecos e não incutidos, desta ultima forma o que se cria são competências forçadas, que castrarãoa essência de cada indivíduo e o levam para longe da sua vontade progredindo assim para uma vida, na realidade sobrevida que leva todo o homem a definhar espiritualmente, enfim......esperemos que ainda reste rebeldia para se soltarem uns pensadores, os amantes da vida, assim como a própria vida encontrarão o seu caminho.......assim o espero, e um dia, quem sabe um dia o ensino passe a "ensinar todos os alunos a amarem a vida" o que obviamente ia trazer ao mundo continental um enorme problema, gente de mais a pensar, demasiadas alternativas, realidades a emergir, e isso não convém, de todo.
ResponderEliminarUm grande abraço Ze.
Pois é César. A pressão da normalização, da competição, da excelência, por vezes, não os deixa respirar.
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