"Ajudas a Portugal e Grécia foram resgates aos bancos alemães"
A entrevista de Phippe Legrain,
ex-conselheiro económico de Durão Barroso é de leitura obrigatória e um
excelente contributo para entender como a ajuda "solidária" e "generosa" e dos nossos parceiros e que nos empobreceu foi, fundamentalmente, resultante da incompetência das lideranças
da Comissão Europeia e da protecção dos interesses da banca francesa e,
sobretudo, alemã. Nada de novo, apenas o reforço de que a via seguida, austeridade
e empobrecimento, não era a única alternativa mas foi imposta para defender interesses particulares e aceite sem sobressalto por uma gente sem espinha que abdicou da sua
soberania.
Recordo, aliás, que em Novembro
de 2013, já alguns países europeus consideravam cada vez mais as políticas
económicas da Alemanha como o principal obstáculo à resolução da
crise económica que atravessamos, referindo-se que a Comissão Europeia iria
desencadear uma investigação sobre os excedentes comerciais e as contas
correntes alemãs. O Comissário Olli Rehn afirmou, "Se a Alemanha e a
França aplicarem juntos as recomendações europeias, prestarão um grande serviço
ao resto da zona euro e ao seu crescimento e ao emprego".
No entanto, a situação
privilegiada da Alemanha é conhecida de há muito.
Segundo dados oficiais, a
Alemanha poupou cerca de 41 mil milhões de euros com a crise das dívidas
soberanas na zona euro devido à queda das taxas de juro sobre a sua taxa de
dívida pública, considerada um "refúgio seguro" pelos investidores do
mercado.
Recordo ainda dados de Julho de
2013 que mostravam como os grupos empresariais franceses e alemães foram os que
mais beneficiaram das políticas de ajuda do BCE sendo prejudicadas as empresas
espanholas e portuguesas. As taxas de juro do BCE decididas como medidas de
apoio à economia e a forma como os bancos gerem as taxas de juro nos
empréstimos às empresas, levaram a que, de acordo com a Comissão Europeia as
pequenas e médias empresas portuguesas, gregas, espanholas e cipriotas as que
mais são penalizadas pagando taxas de juro por empréstimos bancários entre os
6% e os 7% sendo que as alemãs e as francesas beneficiam de uns mais simpáticos
2% a 3%. Muito interessante e elucidativo.
Aliás, segundo o "Financial
Times", com base em dados do Banco Central Europeu estima-se uma
diminuição de cerca de 42 mil milhões de euros em pagamentos de dívida pelas
empresas europeias nos próximos cinco anos. Acontece que esta diminuição
envolve sobretudo os grandes grupos empresariais alemães e franceses
admitindo-se uma poupança de 14 e 9 mil milhões de euros, respectivamente e a
Itália, com uma diminuição de 2,3 mil milhões. No entanto e curiosamente,
Portugal e Espanha verão as suas empresas ainda mais penalizadas do que já
estão com o aumento do pagamento.
Um mês antes, dados do Eurostat
mostravam como de 2009 para 2012 os países do Centro e Norte da Europa ficaram
mais ricos e os do Sul mais pobres, ou seja e como sempre, a crise tornou os
ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Para exemplificar, Portugal em 2009
tinha Portugal um PIB per capita 80% da média da EU27 para em
2012 passar para 75% sendo agora um dos quatro países com menor poder de
compra.
A análise dos dados mostra como
os países envolvidos em programas de austeridade impostos pela
"ajuda" estão a afundar-se em dificuldades e os países que
generosamente "ajudam" vão enriquecendo. Deve ser a isto que
chama solidariedade e coesão europeias.
Parece claro que para além das
enormes responsabilidades políticas internas, importa considerar como, sem
surpresa face a muitos dados já conhecidos, que os países mais ricos têm
beneficiado fortemente com os pacotes de "ajuda solidária" dirigidos,
impostos, aos países mais pobres com os resultados conhecidos. Esta
desinteressada ajuda acontece mediante a cobrança de juros altíssimos. Mais um
exemplo, dados de final de 2013, Portugal paga por ano 4,4% do seu PIB em
juros, 7,2 mil milhões de euros, valor que voa dos nossos bolsos para
"dezenas de cofres de Estados e bancos europeus" como afirmava na
altura o I num trabalho sobre esta matéria.
Por outro lado e como também se
sabe, as economias fortes do norte da Europa financiam-se a taxa zero ou
mesmo, estranhamente a taxas negativas, enquanto nós, as economias do sul e a
Irlanda pagamos juros altos cujo montante seria um excelente contributo
para a redução dos nossos problemas de equilíbrio. Está certo, somos pobres,
temos o dinheiro mais caro, os mais ricos têm o dinheiro mais barato. Deve ser
isto a que chamam os mercados a funcionar.
Eu sei que sou estúpido, a
economia e as finanças constituem uma matéria inacessível ao cidadão
comum, mas parece-me, certamente de forma errada, que assim se torna mais
difícil que os países em dificuldades deixem de ser pobres e que haja maior
equidade e coesão económica e política na União Europeia.
Que não me levem a mal os nossos
generosos amigos, mas às vezes até penso que é justamente isso que pretendem
com a ajuda desinteressada que nos dão, que, naturalmente, temos de pagar mas
que nos vai deixando pobres.
Tenho até medo de estar a ser
injusto para com a sua generosidade e para com os feitores que em seu nome nos
administram e estão de forma tão empenhada e eficaz a promover o nosso
empobrecimento.
"COM AMIGOS DESTES..."
ResponderEliminarO homem de Santa Comba Dão tinha razão ao dizer "ORGULHAMENTE SÓS"
VIVA!