Ao que parece, a tragédia envolvendo estudantes da
Universidade do Minho poderá estar relacionada com uma situação de praxe
académica.
Apesar de o fazer com toda a reserva que o desconhecimento dos
factos impõe, a sucessão de acontecimentos com consequências muito pesadas
associados a praxes académicas leva-me a retomar a questão.
Creio que no final de 2012 ou já em 2013, estruturas estudantis ligadas
às praxes de nove universidades e institutos acordaram na elaboração de um
documento comum que estabeleça um conjunto de princípios que permita regular os
comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que regularmente
têm vindo a acontecer, alguns com consequências particularmente graves que,
aliás, já motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de algumas
reitorias e direcções de escola. Esta iniciativa revela por parte dos próprios
estudantes a aceitação de situações que devem ser evitadas, daí o esforço de
regulação pois, apesar da argumentação sistemática com a existência dos Códigos de praxe e da possibilidade recusa ou do recurso
ao Tribunal de praxe, na verdade, muitas situações ultrapassam claramente
limites de diferente natureza.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um
conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação, mais do
que a regulamentação, dos comportamento nas praxes parece-me absolutamente indispensável.
Parece-me ainda importante que este movimento de regulação integre o respeito
por posições diferentes por parte dos estudantes sem que daí advenham
consequências implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente crescida e,
espera-se, autodeterminada, seja numa posição favorável ou desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila coexistem
genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade,
humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro. Tenho assistido e tido
conhecimento de cenas absolutamente deploráveis por mais que os envolvidos lhes
encontrem virtudes.
Apesar dos discursos dos seus defensores, continuo a
não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com
integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade,
abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com
inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não
simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em
matérias que claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo
positivo a anunciada iniciativa de regulação que envolverá diferentes
academias.
Quando me refiro a esta questão, surgem naturalmente
comentários de pessoas que passaram por experiências de praxe que não entendem
como negativas, antes pelo contrário, afirmam-nas como algo de positivo na vida
universitária. Acredito e obviamente não discuto as experiências individuais,
falo do que assisto.
A minha experiência como aluno universitário, dada a
época, as praxes tinham entrado em licença sabática, por assim dizer, foi a de
alguém desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno porque
não acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar.
Provavelmente, advém daí a minha reserva.
Concordo inteiramente com esta posição.
ResponderEliminarO que mais me choca nestas situações todas é a irracionalidade destes acidentes que manifestam um fato indesmentivel: é que no movimento psudo cultural da praxe os estudantes tornam-se irracionais, tomam atitudes completamente non sense, o que se na maior parte das vezes não tem perigo pode provocar por outro lado mortes e outros danos colaterais aos magotes - como é possivel que pessoas inteligentes se exponham a ondas que os podem levar para o fundo do mar ou que entrem em guerras de cursos em que se empoleiram em cima de um muro que está quase a cair.,É porque a essência das atividades da praxe conforme existem neste pais é a irracionalidade, a perda transitória do espirito critico, o non sense...