AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O INGLÊS NO 1º CICLO. Estava escrito nas estrelas

"Inglês não chega a todos os alunos do 1.º ciclo"

Em 18 de Setembro de 2013, início de um ano lectivo absolutamente "normal como o MEC definiu, escrevi:

A imprensa de hoje chama a atenção para o facto de o Inglês estar a deixar de ser ensinado em várias escolas do 1º ciclo pois não integra os conteúdos curriculares obrigatórios e no âmbito da Oferta Complementar é facultativo o seu ensino.
Na verdade, o ensino de Inglês era fundamentalmente realizado no âmbito das Actividades de Enriquecimento Curricular que como se sabe sofreram alterações de funcionamento e que são facultativas. O quadro existente com base nos Decretos-Lei 139/2012 e 91/2013 é, cito "Artigo 9.º, 1 — As escolas do 1.º ciclo podem, de acordo com os recursos disponíveis, proporcionar a iniciação da língua inglesa, com ênfase na sua expressão oral, no âmbito da Oferta Complementar."
Está pois definido o quadro legal que permite que as escolas, consoante as disponibilidades e entendimentos possam incluir, ou não, o ensino do Inglês.
Esta situação, nas escolas onde a oferta não irá existir, está a despertar alguma reacção negativa por parte de pais e professores pelo impacto no trajecto escolar dos miúdos promovendo uma situação óbvia de desigualdade e discriminação.
Relembro que o MEC acabou de anunciar a criação já para este ano de uma prova nacional de Inglês, obrigatória, que se transformará em exame nacional tal como em Português e Matemática e a realizar no 9º. Temos assim que alguns alunos poderão ter percursos de aprendizagem do Inglês bem diferentes sem que isso resulte da responsabilidade das famílias.
Parece dispensável sublinhar a importância do acesso precoce ao domínio de uma língua estrangeira e, por razões simpáticas ou não, e a língua inglesa parece ser a mais requerida.
Não se entende pois esta espécie de dupla mensagem vinda do MEC, sublinhando, por um lado a importância do Inglês com a criação de provas e a seguir exames nacionais e desvalorizando, por outro lado, o seu ensino para todas as crianças desde o início da escolaridade. A justificação do MEC de que remete para autonomia das escolas a gestão da oferta não colhe, pois ao entender que irá avaliar todos os alunos ao 9º ano em inglês não pode deixar que uns alunos possam ter oportunidades diferentes de aprendizagem consoante a escola entenda, ou possa, proporcionar-lhes essas oportunidades. O princípio da autonomia em matéria curricular é dificilmente compatível com exames nacionais obrigatórios por disciplina.
Não conseguindo vislumbrar razões de natureza pedagógica, didáctica ou científica para este cenário resta a possibilidade de que alguém no MEC tenha pegado na Folha de Excel, procedido a umas contas e ter achado que seria bem mais barato deixar o ensino de inglês por conta das escolas, sabendo que com os recursos que estas têm disponíveis não cobrem as necessidades de todas as crianças e esperar que as famílias dos meninos que não tenham ensino de inglês na sua escola o comprem na oferta privada.
Está escrito nas estrelas.

E estava. Como a imprensa hoje refere existem muitíssimos alunos do 1º ciclo sem acesso a aulas de Inglês. O modelo escolhido, a falta de recursos, um salário ofensivo, etc., leva a que inúmeras escolas não consigam estruturar a oferta do ensino do Inglês.
O Ministério sacode a água do capote e remete para a autonomia(?) das escolas a resolução dos problemas. Talvez fosse de pensar numa PPP à semelhança do que se estabeleceu a propósito do exame agora instituído e encomendar o ensino do Inglês a Cambridge.

A questão, recordo, é que “Temos assim que alguns alunos poderão ter percursos de aprendizagem do Inglês bem diferentes sem que isso resulte da responsabilidade das famílias.”

Sem comentários:

Enviar um comentário