Os dados relativos à demografia
escolar traduzem um cenário de inverno demográfico extremamente preocupante que
a retórica não parece suficiente para reverter.
Na verdade a situação que
atravessamos torna urgente a definição de políticas de apoio à família com
impactos a curto e médio prazo na qualidade, protecção e disponibilidade para a
parentalidade como, por exemplo, a acessibilidade, na distância e no custo, aos
equipamentos e serviços para a infância com o alargamento da resposta pública
de creche e educação pré-escolar, cuja oferta está abaixo da meta estabelecida
bem como combater a discriminação salarial e de condições de trabalho através
de qualificação e fiscalização adequadas. Acresce a necessidade de políticas
amigas das famílias em termos de licenças parentais, fiscalidade, legislação
laboral, etc.
Seria ainda importante, à
semelhança do que se passa noutros países, a introdução de ajustamentos na
organização social do trabalho, nos horários, por exemplo, que tornassem
mais amigáveis e compatíveis para famílias com filhos os desempenhos
profissionais. Os custos destas medidas seriam certamente compensados em
várias dimensões.
Só com uma abordagem global e
multi-direccionada me parece possível promover a recuperação demográfica
indispensável.
Existem muitas coisas verdadeiramente importantes para a nossa vida; a recuperação demográfica não é uma delas. Uma população em crescimento constante não só é matematicamente impossível num planeta finito como indesejável a partir de certo ponto. Recuos demográficos trazem aspectos positivos, nomeadamente para o ambiente, para a disponibilidade de recursos, para a vida quotidiana em ambientes já sobre-urbanizados. Cabe-nos simplesmente fazer o melhor com a realidade que temos, com mais ou menos bebés. Somos todos seres humanos, vivos e capazes até idades cada vez mais avançadas. Chega de atirar responsabilidades para os que ainda não nasceram, ou pior ainda, gerá-los apenas com o intuito de nos suportarem na velhice. Aliás, verifica-se hoje em dia que, sendo difícil encontrar emprego de um modo geral, se torna especialmente difícil a partir de uma certa idade. É nascerem mais bebés que irá mudar esta realidade? Ou irá antes continuar a tendência por nós criada de atirar os mais velhos para a obsolescência?
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