AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 20 de março de 2014

FORMAÇÃO DE PROFESSORES. SIM, MAS ...

Foi aprovado em Conselho de Ministros o diploma que regula as habilitações para a docência.
Não conheço os conteúdos do diploma mas para além do aumento da duração dos ciclos de estudos de formação de professores que me parece aceitável, designadamente nos ciclos de estudo que apenas duravam dois semestres.
No entanto, é pública a sobrevalorização no discurso do Ministro Nuno Crato com o que chama “conhecimento científico” significando os conhecimentos próprios à área científica que se lecciona, isto é, para o ensino do Inglês o essencial é que o professor saiba Inglês. Paralelamente subvaloriza outro gama de conhecimentos que são acantonados nas diabolizadas “Ciências da Educação”, frequentemente responsabilizadas por alguns opinadores, incluindo o Nuno Crato, pelos males que afectam a educação.
Como muitas vezes tenho afirmado a propósito de várias matérias, a indisciplina escolar, por exemplo, que é importante melhorar os programas de formação de professores. No entanto, creio que qualquer pessoa dentro do universo da Educação em Portugal tem clara consciência que, em termos globais pois existem sempre excepções, o conhecimento científico dos professores, sobre as matérias que ensinam não é um problema central. É razoavelmente evidente, só para dar alguns exemplos que para além do conhecimento científico da matéria que se ensina, importa o conhecimento sobre a forma de ensinar essa matéria, a forma de aprender essa matéria e a forma de avaliar essa matéria. Claro que o Ministro da Examinação do alto da arrogância da ignorância entende que ensinar Matemática numa turma do 3º ciclo com 30 alunos de uma escola cheia de problemas ou ensinar Matemática a uma turma de igual efectivo um estabelecimento privado altamente exclusivo é “apenas” um problema de saber … Matemática.
Nesta perspectiva, os programas de formação de professores deverão, naturalmente, ser equilibrados no espaço atribuído aos “conhecimentos científicos” relativos à área que se ensina, aos aspectos relativos à pedagogia, à aprendizagem, à didáctica, às variáveis de natureza psicológica, social e afectiva próprias dos processos educativos, etc. que, desculpe lá Professor Nuno Crato, também são, evidentemente, “conhecimento científico”.
Como é habitual, Nuno Crato sustenta tudo o que faz com a retórica da qualidade, também estas mudanças radicam, segundo o Ministro, na qualidade. A referência já não colhe.
Boa parte das políticas educativas subscritas pelo MEC tem atropelado a qualidade da escola e o trabalho dos professores e alunos. Só para dar alguns exemplos, é difícil argumentar que o aumento do número de alunos por turma, mudanças curriculares insustentáveis, corte nos recursos para apoiar alunos e professores, os maus tratos à educação especial, os cortes e a deriva no que respeita à colocação de professores, etc., etc., sejam contributos para a qualidade da escola pública em Portugal.
Vamos aguardar.

2 comentários:

  1. Bem pode a formação de professores ser dilatada para 10 anos, com Doutoramentos e Pós-Doutoramentos, em aprofundadíssimos conhecimentos científicos, que com 31 alunos numa turma (como se vive por aqui), ainda por cima num espaço desenhado para 28 alunos no máximo, onde se tornou quase impossível circular entre as filas, não haverá ciência que se lhe aplique!

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