Por uma vez estou de acordo com Mendes Bota, no seu desacordo com o Acordo Ortográfico.
Dado que o Acordo do nosso descontentamento será debatido no Parlamento na próxima sexta-feira e porque ainda estamos a tempo de evitar este crime disparatado contra a língua portuguesa nas suas diferentes variantes, justamente uma das fontes da sua enorme riqueza, aqui se regista, mais uma vez e enquanto for possível, a minha enorme discordância. A minha opinião, não técnica, não servirá para muito, mas expressar teimosamente o profundo desacordo como o Acordo é um imperativo.
Do que tenho lido e ouvido, nada me tem convencido da sua bondade ou necessidade. Entendo que as línguas são estruturas vivas, em mutação e isso é importante. Neste cenário, é clara a necessidade de ajustamentos, por exemplo, a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras o que não me parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como norma. Já estou cansado do argumento da “pharmácia”quando se pode verificar que em todos os países, e são muitos, em que o termo tem a mesma raiz, a grafia é com “ph” e nada de muito grave acontece. A introdução ou mudança na grafia tem acontecido em todas as latitudes e não tem sido necessário um Acordo com os conteúdos bizarros, alguns, que este contém.
Por outro lado, a grande razão, a afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence pois não me parece que o inglês e o castelhano que têm algumas diferenças ortográficas nos diferentes países em que são língua oficial, experimentem particulares dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for. De facto, não tenho conhecimento de perturbações ou de dramas com origem nas diferenças entre o inglês escrito e falado na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas isto dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante daquelas comunidades anglófonas. O mesmo se passa entre a comunidade dos países com o castelhano como língua oficial.
Por outro lado, a opinião dos especialistas não é consensual, longe disso, temos regularmente exemplos disso mesmo, e eu sou dos que entendem que em todas as matérias é importante conhecer a opinião de quem sabe. Aliás, é interessante analisar a natureza da argumentação dos especialistas favoráveis ao Acordo. Algumas vezes assenta, sobretudo, no porque sim, porque é novo. É pobre.
Neste quadro e como sou teimoso vou continuar a escrever em desacordo com o Acordo até que o teclado me corrija. Nessa altura desinstalo o corrector que venha com o Acordo e vou correr o risco de regressar à primária, ou seja, ver os meus textos com riscos vermelhos por baixo de algumas palavras, os erros.
Não é grave, errar é humano.
No entanto, como toda gente, não gosto de errar, pelo que preferia continuar a escrever assim, desacordadamente.
Sou professora de Português, por isso, há quase três anos, escrevo segundo o novo AO90 em contexto escolar e sem o acordo a nível pessoal. Começou por ser uma tarefa muito difícil, mas tornou-se quase mecânica. Por opção, não tenho, nem nunca tive, qualquer corrector ortográfico instalado no computador (até possuo o Office em Inglês). Tenho apenas o excelente conversor ortográfico da Porto Editora destacado nos favoritos e recorro a ele inúmeros vezes, o que tem facilitado a aprendizagem das novas regras (algumas bem acertadas, como a supressão de "consoantes mudas").
ResponderEliminarServe isto para dizer que podia continuar assim toda a vida que já não me faria grande diferença. Aliás, até há quem defenda que contrariar as rotinas ajuda a prevenir-se contra a doença de Alzheimer! :)
Porém, preocupa-me muito que se trate o assunto com a ligeireza de quem esquece que o AO90 se tornou obrigatório nas escolas desde 1 de Setembro de 2011, havendo já inúmeras crianças no primeiro ciclo que nunca conheceram outra forma de escrita, para além de todas as outras crianças/jovens estudantes que tiveram que desaprender a grafia que sempre conheceram para adoptar a nova, o que fizeram com enorme sucesso e facilidade, diga-se de passagem. Ao menos que se fale nisto também, mesmo que se conclua que os benefícios do recuo justificam estes danos.
O ensino de Português tornou-se uma verdadeira anedota! Introduziram-se os novos programas a meio do percurso escolar dos alunos, com a nova terminologia linguística que obriga a dizer-se constantemente "Isso já não existe. Tens de esquecer. Agora chama-se X" (a nível da sintaxe, só para exemplificar, onde todos os complementos circunstanciais despareceram). O que falta mesmo é ter de dizer aos alunos coisas hilariantes como: "A mini-saia, que tinha diminuído [para minissaia], agora aumentou de novo". Quem sabe se alguma alma mais atrevida pergunta se foi por causa dos pudicos...
O maior problema do novo AO90 não é a conformidade da grafia nos vários países de língua oficial portuguesa, mas a persistência de demasiada desconformidade. O maior problema não é sequer adoptar um acordo ortográfico, mas sim adoptar um mau acordo ortográfico.
Compreendo e como também disse, as línguas evoluem e a sua ortografia também. A minha questão não tem a ver a com mudança NATURAL mas com este Acordo.
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