AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

INTEGRAR NÃO RIMA COM HUMILHAR E MALTRATAR

Com progressiva insistência parece desenhar-se uma relação entre a tragédia que vitimou cinco estudantes universitários na Praia do Meco e uma situação de praxe.
Apesar de o fazer com toda reserva que o desconhecimento dos factos impõe, o processo está em investigação em várias frentes,  os indícios parecem fortes o que me leva, e levará, a retomar a velha questão das praxes académicas e dos velhos problemas que lhes estão associados, muitas vezes, problemas graves como eventualmente será o caso.
Na verdade, são por demais conhecidos por famílias, estudantes e muita gente que assiste ou lida de perto com este universo bem como objecto de referência regular na comunicação social episódios que no âmbito das praxes académicas correm mal.
Os excessos graves nos consumos são muito frequentes e relembro que em 2013, numa decisão pouco habitual, o Tribunal da Relação do Porto confirmou a condenação decidida pelo Tribunal de Famalicão da Universidade Lusíada a indemnizar a família de um aluno que faleceu no âmbito de um episódio de praxe académica. Recordo também uma ocorrência em Beja também com contornos muito graves no contexto das praxes académicas. Sabemos todos que de há alguns anos para cá estas situações são comuns bem como são comuns comportamentos de outra natureza mas, do meu ponto vista, igualmente violentos.
Creio que no final de 2012 ou já em 2013, estruturas estudantis ligadas às praxes de nove universidades e institutos acordaram na elaboração de um documento comum que estabeleça um conjunto de princípios que permita regular os comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que regularmente têm vindo a acontecer, alguns com consequências particularmente graves que, aliás, já motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de algumas reitorias e direcções de escola. Esta iniciativa revela por parte dos próprios estudantes a aceitação de situações que devem ser evitadas, daí o esforço de regulação pois os códigos já existentes não parecem ser suficientes para assegurar o equilíbrio desejável.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação, mais do que a regulamentação, dos comportamento nas praxes parece-me absolutamente indispensável. Parece-me ainda importante que este movimento de regulação integre o respeito por posições diferentes por parte dos estudantes sem que daí advenham consequências implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente crescida e, espera-se, autodeterminada, seja numa posição favorável ou desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade, humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro. Tenho assistido e tido conhecimento de cenas absolutamente deploráveis por mais que os envolvidos lhes encontrem virtudes.
Apesar dos discursos dos seus defensores, continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade, abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em matérias que claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo positivo a anunciada iniciativa de regulação que envolverá diferentes academias.
Quando me refiro a esta questão, surgem naturalmente comentários de pessoas que passaram por experiências de praxe que não entendem como negativas, antes pelo contrário, afirmam-nas como algo de positivo na vida universitária. Acredito e obviamente não discuto as experiências individuais, falo do que assisto.
A minha experiência como aluno  universitário, dada a época, as praxes tinham entrado em licença sabática, por assim dizer, foi a de alguém desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno porque não acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar.
Provavelmente, advém daí a minha reserva.

2 comentários:

  1. Rimar, rima. Todavia não há ligação possível!

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  2. Rimar, rima. Todavia não há ligação possível!

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