AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

AS CRIANÇAS DESAPARECIDAS QUE ESTÃO À VISTA

É bom termos histórias reais com final feliz, a criança desaparecida há três dias na Madeira foi encontrada, aparentemente bem, ao fim de 70 horas. Lamentavelmente, nem todas as situações de crianças que desaparecem têm este desenlace.
Em Portugal, segundo indicadores conhecidos, são reportados por ano cerca de 2000 casos de desaparecimento de crianças e adolescentes, situações que, felizmente, na sua grande maioria são resolvidas, os menores são encontrados.
Sobre esta questão que afecta muitas crianças e famílias, algumas notas repescadas.
De há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta natureza bem como, a maior atenção aos factores de risco, por exemplo a net e as redes sociais que não podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Embora se saiba, como já referi, que muitos dos casos reportados de desaparecimento de crianças e adolescentes acabem por ter, por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento é temporário, reactivo a incidentes ou a resultados escolares alguns transformam-se em tragédias sem fim como o caso do Rui Pedro desaparecido há 15 anos ou menina inglesa, a Maddie, desaparececida no Algarve.
Uma situação desta natureza é uma tragédia absolutamente devastadora numa família. Nós pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar a situação é de uma violência inimaginável.
No entanto e neste contexto, creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que, por várias razões, vivem à beira de pais e professores para os quais passam completamente despercebidas, são as que eu chamo de crianças transparentes, olhamos para elas, através delas, como se não existissem. Não estando desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém procura e, por vezes, também se se perdem de vez.

Sem comentários:

Enviar um comentário