O
ano que termina mostrou, entre muitas outras coisas, o entendimento que o MEC
tem dos princípios da educação inclusiva. Certamente se lembrarão, questionado
sobre as condições existentes de apoio a alunos com necessidades especiais em
turmas demasiado extensas, o Ministro da Examinação considerou que se tratava
de uma "questão administrativa", ou seja e na realidade, os alunos
não estão na sala de aula, não participam, sendo que a participação é, como defendo, o mais sólido
critério de inclusão.
Com
este entendimento assistimos a corte de professores, à utilização irracional de
docentes nas escolas desempenhando funções em contextos para os quais não estão
preparados, a atrasos e falta nos dispositivos de apoio, a atrasos e falhas nos
apoios às famílias e instituições, à falta de técnicos especializados etc.,
tudo na maior "normalidade" como sempre o MEC entende.
No
DN de hoje lê-se que de acordo com a Associação Nacional de Empresas de Apoio
Especializado, a Direcção Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) rejeita
de forma administrativa, sem avaliação realizada por si ou pelas escolas, os
pedidos de atribuição de subsídios de educação especial afirmando que os
meninos "não têm necessidades educativas especiais".
É
impossível ler estas questões sem uma inquietação. Não vou discutir aqui o
modelo de resposta e o sistema montado nem, muito menos, se as avaliações são
sólidas e competentes matéria sobre a qual nem sequer me devo pronunciar por
razões ético deontológicas, são da responsabilidade e assinadas por técnicos. Se levantarem dúvidas deve aprofundar ou esclarecer o processo de avaliação, não é matéria de tratamento administrativo
A
minha questão remete para a inaceitável forma de decisão que, aliás, já se
verificava na apreciação dos pedidos de condições especiais para a realização
de exames nacionais por parte de alunos com necessidades especiais em que uns
burocratas na 5 de Outubro decidiam, sem conhecer os alunos, olhando para os
processos, se poderiam, ou não, aceder a condições especiais de exame e, em
alguns casos, decidiam completamente à revelia da avaliação da escola e dos
técnicos que acompanham os alunos.
É
esta fórmula, absolutamente desrespeitosa dos profissionais, eticamente
inaceitável, que transforma aspectos fundamentais para a vida dos miúdos e
famílias numa mera questão administrativa resolvida a "olhómetro" que
impressiona pela irresponsabilidade.
Numa
política educativa de selecção, "darwinista", para os mais "dotados"
os que conseguem sobreviver, a presença de alunos com necessidades especiais só
atrapalha. Assim sendo, colocam-se duas hipóteses, ou se mandam embora da
escola de volta às instituições a quem se vai garantindo uns apoios, a diminuir
evidentemente, para que por lá mantenham estes alunos, sobretudo adolescentes e
jovens ou, segunda hipótese e mais barata, nega-se irresponsavel e
administrativamente a sua condição de alunos com necessidades especiais, "normalizam-se"
ficam tratados como todos os outros alunos e espera-se que a selecção e a
iniciativa das famílias leve os meninos que atrapalham para fora da sala de
aula, primeiro, e para fora da escola, depois.
A
notícia de hoje inscreve-se nesta segunda hipótese bem mais económica.
Sopram
ventos adversos conforme o dia cabaneiro, como se diz no Meu Alentejo, que hoje
temos para finalizar 2013.
É trágico. E confirmo pois tenho um filho com necessidades especiais. O seu texto não podia ser mais verdadeiro e assertivo.
ResponderEliminarNão se deseja mal a ninguém "Diz o Povo". Mas muito sinceramente devia de haver uma fórmula que passasse para os iluminados da 5 de Outubro muitas das deficiências que as tais crianças com "Necessidades Especiais" tem para o resto da sua vida. Para ver se percebiam o que se passa, para além da tal "Questão Administrativa".