Vamos entrar em pleno espírito natalício pelo que, dado o alvoroço sentido
nas escolas cujo clima ficou em alerta vermelho, seria de gozar uns dias de descanso.
No entanto, considerando algumas afirmações de Nuno Crato na patética
entrevista à RTP na noite de ontem ainda umas notas em jeito de rescaldo e cujo
alinhamento não decorre da importância mas da lembrança.
Certamente devido à (quase) normalidade em que a sinistra Prova decorreu, Ministro Nuno Crato pareceu-me profundamente
perturbado, fugindo para a frente, disparando em todas as direcções. Utilizando
a "eduquesa" terminologia que usou para definir os objectivos da
Prova e que registo, o tempo e a manha
fazem milagres, Crato não mostrou "condições mínimas" na
"mobilização do raciocínio" e demonstrou falhas nos "conhecimentos
transversais". Em síntese, a Prova não lhe correu nada bem.
Parece razoavelmente consensual que esta Prova, no modelo e conteúdo definidos,
é apenas um excelente exemplo do que não deve ser um processo de avaliação de
professores. Deste ponto de vista, a Prova de ontem é de uma enorme riqueza
pedagógica. Sobre a Prova já tudo foi dito, que repouse em paz.
Aflito com a justificação e como é hábito, o Ministro começou a disparar irresponsavelmente sobre a formação de professores, que manifestamente ignora, tentando, num
esforço deprimente mas no seu jeito de dividir para reinar, diabolizar o ensino
politécnico relativamente ao universitário. Má onda como dizem os mais novos e
reveladora da falta de "conhecimentos transversais" ou, prefiro
esta, de uma manha política que envergonha.
De uma assentada, reduziu a zero o trabalho que realizam os Politécnicos e
as Universidades, um pouco melhor mas ainda mau e, sobretudo, desacreditou
incompreensivelmente o trabalho da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino
Superior cujo trabalho de avaliação é reconhecido. Sublinho, sempre o tenho afirmado, que a minhas notas não significam que tudo esteja bem na formação de professores, longe disso, mas este não é caminho tal como não o é a metodologia de revisão já imposta pelo MEC.
Uma nota ainda para registar mais um excelente exemplo da habitual
negação da realidade, isto é, eu é que estou certo, a realidade está enganada.
Uma parte significativa dos professores não realizaram a Prova, a comunicação
social mostrou imagens elucidativas do clima criado e o Ministro e o ajudante
Grancho falam de normalidade. De tal forma tudo isto é normal que é necessário
repetir a Prova. Não se pode ainda deixar de referir como Nuno Crato num autêntico golpe de asa, e num bom exemplo de desonestidade intelectual vestiu a pele de paladino integrando o famoso grupo "Os Críticos do Facilitismo" e se apropriou do que positivo aconteceu com os resultados do PISA que num assomo de megalomania se deveram, evidentemente, às críticas de Nuno Crato, Medina Carreira, José Manuel Fernandes, Guilherme Valente, entre outros que constituem, como se sabe, a nata dos investigadores e pensadores sobre a educação em Portugal. Adiante, o Natal espera-nos.
Já incomoda o Ministro atrever-se a falar em nome das famílias e dos alunos
que exigem qualidade na educação assumindo-se como o seu advogado e protector
contra os energúmenos e incompetentes professores. Talvez fosse de lembrar os
atropelos que o Ministro tem cometido a essa qualidade da escola pública, com o aumento do número
de alunos por turma, mudanças curriculares insustentáveis, corte nos recursos
para apoiar alunos e professores, os maus tratos à educação especial, a famosa
decisão sobre o ensino do inglês, etc., etc.
Nuno Crato deve, ele sim um pedido de desculpas às famílias, aos alunos e
aos professores. Temo que venhamos a ter na historia da educação em Portugal e pelas piores razões, um período AC e um período DC, depois de Crato.
Que o espírito natalício lhe ilumine o entendimento.
Temo que já nem o Natal o salve.
ResponderEliminarExcelente artigo. Muito bem pensado e muito bem escrito.Gostei e fiquei esclarecido.
ResponderEliminarJosé Luís COVITA
Falta ali um nome:Ramiro Marques!
ResponderEliminarTem toda a razão, que se registe Ramiro Marques
ResponderEliminarOs Marajás uma saga sem fim, neste país à beira plantado…
ResponderEliminarhttp://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=631&id=96675&idSeccao=11007&Action=noticia