AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

OS ESCOLANTES

Ao passar perto de uma escola do 2º e 3º ciclo com um número bastante elevado de alunos, como é habitual em zonas suburbanas,  verifiquei que, apesar de estarmos em horário escolar, um número significativo de alunos deambulava pelos espaços da escola ou pelas imediações.
Presumo que tal situação não se devereria a absentismo de docentes pois as escolas costumam acautelar essa questão com actividades de substituição.
Acho que muitos dos alunos que vi fora das salas de aula estão a caminho de perder a condição de "estudantes", e estarão em vias de passar a "escolantes", ou seja, os que já só vão à escola, já não estudam.
É verdade que este cenário costuma tornar-se mais evidente a partir do meio do segundo período, quando as expectativas de sucesso começam a baixar significativamente e levam à desmotivação, primeiro, e posteriormente para muitos, ao deixar de aparecer nas aulas, não vai servir de nada, já perderam o comboio, já "não vão lá". São os grandes candidatos ao empurrão para o ensino vocacional, não servem para o trabalho intelectual.
No entanto, continuam a deslocar-se diariamente para a escola, é lá que estão os seus amigos e, apesar de tudo, é lá que eles acham que devem estar apesar dos discursos negativos e agressivos que produzem com frequência sobre a escola. Ninguém gosta do fracasso, os discursos e os comportamentos nas mais das vezes mascaram o mal que se sentem pelo fracasso escolar e pelo que isso significa.
A tarefa de alunos e professores não é, longe disso, uma tarefa fácil. Com o irresponsável aumento do número de alunos por turma e o abaixamento dos recursos docentes que permitam  a montagem mais eficaz de dispositivos de apoio a alunos e professores, bem como a aposta numa organização curricular que através da definição de metas curriculares incapazes (na forma como estão formuladas) de acomodar diferenças e ritmos individuais e a obsessão pela medida, os exames, como poção mágica, temo que mais cedo e em maior número comecemos a ver os escolantes nas escolas e à volta delas.
Gostava de estar mais optimista mas não vejo como.

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