AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A IGREJA E O MOMENTO

A iniciativa inédita, creio, do Papa Francisco ao desencadear um inquérito junto das comunidades religiosas, bases e hierarquia, sobre alguns dos chamados temas fracturantes divórcio, uniões entre pessoas do mesmo sexo e adopção por parte destes casais, está cria algum sobressalto que e parece interessante. Os bispos portugueses discutem em Fátima a operacionalização do inquérito em Portugal embora algumas vozes temam pouca participação e, sobretudo, a aceitação da eventual diversidade de opiniões.
A propósito desta importante questão considerando o peso da Igreja nas comunidades e as mudanças significativas de valores que não tem sido acompanhada pela Igreja, recordo que D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, afirmava em 2012, em entrevista ao JN, que a Igreja não está à altura do momento, está "atrasada" e não presta atenção às "transformações do mundo".
A afirmação de D. Manuel Martins lembrou-me o conhecido enunciado, "no entanto ela move-se". Ao que a história ou a lenda rezam, no séc. XVII Galileu Galilei reagiu com esta mítica afirmação à sua condenação no Tribunal do Santo Ofício pela defesa do modelo heliocêntrico, a Terra move-se em volta do Sol.
Do meu ponto de vista, a reconhecida perda da influência da Igreja Católica, sobretudo nos países mais desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhece D. Manuel Martins.
Um dia, talvez a instituição Igreja aceite e perceba a necessidade de mudança no discurso sobre divórcio, uniões entre pessoas do mesmo sexo e adopção por parte destes casais, a anti-concepção, o casamento, o celibato dos padres, a abertura do sacerdócio às mulheres, a ostentação visível em parte das estruturas da igreja, etc.
No entanto, considerando o que se tem ouvido e é conhecido das intervenções da hierarquia da Igreja, não creio que, apesar da iniciativa em curso desencadeada pelo Papa Francisco e também da significativa mudança de estilo face ao seu antecessor Bento XVI, seja de esperar um movimento de alteração significativa nas posições da Igreja sobre estas matérias.
Eppur si muove.
 

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