Segundo o Expresso já se encontra na Comissão de
Educação da Assembleia da República o Relatório de avaliação sobre o ensino
vocacional que decorreu no ano lectivo passado a título experimental em 13
escolas.
Do que é conhecido uma primeira nota que aliás já
aqui tinha referido. O MEC sem esperar pela avaliação, o Relatório é de
Setembro, já tinha decidido para este ano lectivo aumentar exponencialmente,
3000%, o número de turmas destes cursos o que é interessante como metodologia,
generaliza-se independentemente da avaliação a que o período experimental
estava sujeito. É certo que Ramiro Marques bem se esforçou por bem vender o "produto"
e ele aí está.
A decisão do MEC também não é estranha pois corresponde
a uma linha importante das opções políticas, um persistente e determinado
caminho de ir aliviando o "ensino regular" dos alunos
"preguiçosos" e "burros" que só atrapalham e não deixam que os
resultados escolares, quer dizer, os exames, o mantra de Nuno Crato, sejam
excelentes. Na verdade, é mais interessante criar turmas de
"descamisados", uma espécie de "alunão", um recipiente para
onde se enviam a partir dos 13 anos os alunos que não prestam e devem ser
reciclados, do que estruturar apoios e recursos que os mantenham, tanto quanto
possível, no ensino "regular". Esta ideia é vendida sob o princípio
ajustado e que deve ser considerado de diferenciar e diversificar os percursos educativos
mas contém o pecado original de se destinar privilegiadamente e
"obrigatoriamente" aos chumbados como todos sabemos que na prática
acontecerá.
Acontece que, lá vem a realidade estragar as
coisas, os professores inquiridos revelaram na sua maioria a inadequação das
respostas embora seja necessário conhecer com mais pormenor o Relatório.
No entanto, gostava de recordar que Relatórios da OCDE e da UNESCO têm sustentado
que a colocação dos alunos com piores resultados escolares em ensino de
carácter técnico e vocacional, muito cedo, em vez da aposta nas aquisições
escolares fundamentais, aumenta a desigualdade social.
Quero deixar claro, tenho-o escrito e afirmado,
que é importante diversificar a oferta formativa, a diferenciação de percursos,
de forma a conseguir um objectivo absolutamente central e imprescindível, todos
os alunos devem atingir alguma forma de qualificação, única forma de combater a
exclusão e responder mais eficazmente à principal craracterística de qualquer sala de aula actual, a heterogeneidade dos alunos. Aliás, a oferta formativa de natureza profissional a alunos mais
velhos, no âmbito do ensino secundário que também está a acontecer, pode ser um
passo nesse sentido desde que não canalizado para os "que não servem"
para a escola.
A questão que considero fortemente discutível num
plano técnico e ético é a introdução desta diferenciação tão cedo e “obrigatória”
para os que chumbam. Poucos sistemas educativos assumem este entendimento e o
facto de o ensino alemão, a inspiração de Crato e colaboradores, o admitir não
é nenhuma chancela de correcção do modelo como atestam as apreciações
internacionais.
Os alunos com insucesso, estamos a falar,
presumo, de gente com capacidades "normais" irão “obrigatoriamente
para” o ensino vocacional. Sabe-se que o insucesso escolar é mais prevalente em
famílias mais desfavorecidas embora também conheçamos as excepções, muitas.
Assim, mantemos a velha ordem, os mais pobres "destinados" preferencialmente
para o trabalho manual, os mais favorecidos preferencialmente para o trabalho
intelectual como a UNESCO reconhece.
A diferenciação dos percursos, necessária e
imprescindível reafirmo, deve surgir mais tarde, como se verifica na maioria
dos sistemas educativos que se preocupam com os miúdos, com todos os miúdos.
qual a diferenca entre turma pief e cursos vocacionais?
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