AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 1 de outubro de 2013

ESTE PAÍS VAI TER QUE SER PARA VELHOS

O calendário das consciências manda que hoje se assinale o Dia Internacional do Idoso, pensemos então um pouco nos idosos. Segundo estudo hoje conhecido envolvendo 91 países sobre as melhores condições de vida dos idosos, Portugal ocupa o 34º lugar, sendo que sem surpresa os mais bem colocados são os do norte da Europa, Suécia, Noruega e Alemanha.
Algumas notas sobre o universo dos idosos em Portugal para além do que o estudo revela. 
A população com mais de 65 anos é já 19.2% do total, estimando-se que seja 32.3% em 2060.
Um milhão e meio dos cerca de dois milhões de pensionistas e reformados recebem pensões abaixo dos 500 € o que apenas permite genericamente cobrir custos de habitação, sendo que 90% vivem exclusivamente das pensões.
Os velhos, tal como os mais novos, são os grupos mais vulneráveis ao risco de pobreza, estimando-se que 24.5% estjam nesta situação, em risco de exclusão social. Aumenta o número de velhos que vivem sós e isolados como os Censos de 2011 comprovam.
As despesas de estadia nos lares e centros de acolhimento são bastante mais altas que os rendimentos dos velhos, pelo que se torna necessária a comparticipação das famílias para além dos apoios do Estado. Dadas as dificuldades que também afectam as famílias, estas estão a sentir progressiva dificuldade em assegurar essas comparticipações.
Numa altura em que continua na agenda a reforma do estado que, parece, assenta nos cortes das suas funções sociais este cenário exige uma profunda atenção como, aliás o Conselho Económico e Social sublinha.
A discussão necessária sobre o chamado estado social decorre num contexto particularmente adverso que pode, existe esse sério risco, fazer emergir ameaças sobre a sua sustentabilidade e, naturalmente, sobre a sua matriz conceptual.
Na verdade e pensando sobretudo no quadro actual e futuro próximo, a nossa população mais velha vive de uma forma genérica em condições muito precárias, como também sabemos que a população mais jovem é a mais exposta ao risco de pobreza para além dos velhos. Aliás, como é conhecido a tragédia do desemprego afecta sobretudo os mais novos e os mais velhos.
Os idosos começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Aliás um estudo do CES referia a urgência do aumento das pensões mais baixas.
 Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico de família. Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução. Por outro lado e para além dos custos das instituições importa ainda considerar a acessibilidade da oferta e a respectiva qualidade como tem vindo a ser conhecido envolvendo ainda a clandestinidade de algumas das respostas.
Se olharmos para conjunto de dados que vão sendo disponibilizados sobre este universo, verifica-se que as condições estruturais se mantêm sem alterações, estamos na mesma posição de pobreza há vários anos e, por outro lado, as condições conjunturais, a crise, acentuam a preocupação com a pobreza e com a velhice o que define um cenário altamente inquietante em termos de confiança no futuro e na desejada e necessária qualidade de vida.
Temos vindo a assistir a um acréscimo de dificuldades das organizações de solidariedade social no providenciar de apoios às dificuldades crescentes da população, sobretudo à mais idosa, o o mesmo relatório do CES sublinha a situação de “asfixia” de muitas instituições, e retorna a mendicidade ou o bater à porta das instituições, porventura de forma mais envergonhada e a atingir camadas diferentes.
Neste cenário, todas as medidas que de alguma forma atinjam os mais velhos devem ser objecto de uma extrema reflexão no sentido de evitar que se acentuem as dificuldades no (sobre)viver de uma parte significativa da população portuguesa.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.
Se a este quadro já instalado acresce o envelhecimento progressivo, o futuro exigirá mudanças substantivas e soluções novas, por exemplo, o estudo e desenvolvimento de algumas formas de vida activa uma vez que boa parte das pessoas refere o desejo de poder manter algum tipo de actividade após a reforma.
Este país não estando a ser para jovens vai ter que ser para velhos.

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