Como era esperado foi aprovada em Conselho de
Ministro a legislação que estabelece o exame de acesso à carreira de professor. Desconhecendo ainda os contornos precisos do texto legal
retomo algumas notas sobre a questão.
Ao que parece e de acordo com o que sempre foi a intenção MEC, para além dos
novos candidatos todo os professores que não estejam integrados na carreira, ou
seja, pessoas com muitos anos de experiência bem sucedida e avaliada terão de
realizar um exame de acesso a uma profissão que exercem há anos. Estranho? Não,
apenas coerente com a relação mágica que o Ministro tem com os exames, ou seja,
fazem-se exames, muitos exames, que a coisa melhora, seja o que for. Deve no
entanto dizer-se que o exame estava previsto desde 2007 sem nunca ter sido
concretizado sendo que se designará Prova de Avaliação de Conhecimentos,
Capacidades e Competências naquela tendência actual de sofisticar e mascarar
designações.
Como sempre tenho referido, a imposição deste
exame traduz, como parece claro, a desconfiança sobre a formação de professores
quer nos politécnicos, quer nas universidades, curiosamente também sob tutela
do MEC. Relembro que em 2009, o então Secretário de Estado da Educação, Jorge
Pedreira, defender a realização do exame de entrada para a carreira docente com
o argumento de que existem Escolas de Ensino Superior sem qualidade e
facilitistas, sempre o facilitismo, que não dão garantias de qualidade na
formação dos seus alunos, citando em declarações à Lusa, os casos do Instituto
Piaget e do Instituto Superior de Ciências Educativas.
A falta de regulação da qualidade do ensino
superior, público e privado, é algo que toda a gente minimamente conhecedora do
meio tem como adquirido. É, no entanto, necessário um “pequenino”
esclarecimento, a falta de regulação da qualidade de formação inicial, neste
caso dos professores, é da exclusiva responsabilidade do Estado através do
quadro legal que definiu e da demissão com que encarou a proliferação de cursos
públicos e privados que contribuindo, caso dos privados, para que milhares de
jovens acedessem a formação de nível superior que as instituições públicas não
tinham condições de providenciar, nasceram e cresceram sem qualquer controlo
sério de qualidade. Do caos instalado emergem, naturalmente, boas e más
instituições.
O Ministro Nuno Crato, a propósito do exame,
afirmou há dias que não se pode ensinar o que não se sabe pelo que é preciso
avaliar o conhecimento científico.
A grande questão, para quem conhece o universo
das escolas não é o conhecimento científico sobre as matérias que leccionam. A
qualidade do trabalho dos professores é algo de bastante mais complexo e que
não cabe num exame sobre “saber científico” ou mais genérico sobre "competências fundamentais". A questão é que Nuno Crato “mede” o
que valoriza no seu entendimento, errado, e valoriza o que acha que “consegue”
medir, o resultado é este discurso.
Poderíamos considerar, como se passa noutros
países, que à entrada na carreira um professor cumpra um ano de trabalho em que
é avaliado em diferentes aspectos, mas o exame de entrada, tal como proposto
pelo MEC, é “facilitismo”, ou seja, sendo uma forma fácil de eliminar candidatos
a professores, mais bizarro e insustentável se torna quando aplicado a professores com
muitos anos de prática avaliada positivamente.
Esta tem muita graça, vinda de um Ministro que, em 24.5.2013, inaugurou a Escola Superior de Desporto de Rio Maior do Instituto Politécnico de Santarém que ministra doutoramentos...
ResponderEliminarhttp://www.oribatejo.pt/esdrm-com-doutoramento-em-ciencias-do-desporto/
http://www.oribatejo.pt/15-anos-depois-a-escola-de-desporto-de-rio-maior-chegou-a-casa-videos/
Se no motor de busca pesquisarem:
Anexo Técnico nVI –UMa – IPS.tif – GPC – Universidade da Madeira
Vão encontrar um ficheiro PDF, que encerra um documento que ficará para a história do ensino superior – PÚBLICO - e nessa medida, caso nele tenham interesse, aconselho que façam a sua impressão, enquanto está disponível. Documento este, que nos permite perscrutar o modus operandi seguido para o Doutoramento em Ciências do Desporto, da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, em parceria com a Universidade da Madeira. E, com alguma ironia, atentos os “vice-versas” em voga no ensino superior público português, concluir até que lhes é muito mais fácil ministrarem um Doutoramento do que uma Licenciatura.
Quiçá, esta inauguração até provocou uma crise neste Governo que nós não sabemos...
Vejam,
http://www.dges.mctes.pt/NR/rdonlyres/A5D453D1-2F67-4980-9ED1-D5505CA3B27E/6873/Esclarecimento2.pdf
Questão é se depois do Sr. Ministro da Educação ter inaugurado a ESDRM, do IP de Santarém, este Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior tinha condições para continuar a exercer as funções...?
O certo é que na remodelação este Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior foi substituído.