AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

MIÚDOS QUE PASSAM MAL NÃO APRENDEM

A Associação Portuguesa de Dietistas recomenda, com base na investigação desenvolvida, que se aumentem as doses de peixe na alimentação dos miúdos durante esta fase inicial do ano lectivo pelo impacto positivo no seu bem-estar.
Como é evidente e por razões bem conhecidas é importante que a alimentação dos mais novos tenha qualidade e equilíbrio, mas a notícia recordou-me que temos muitas crianças e famílias em que a questão é mais complexa, é ter algo para comer. Como se soube e o próprio MEC procurou responder através do PERA, durante o último ano lectivo tivemos múltiplas situações de crianças a chegar à escola sem alimentação, sendo que as únicas refeições que a que acedem são as que as escolas proporcionam o que também tem levado inúmeras autarquias a manter abertas nas férias a cantinas escolares.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
É também reconhecido que as crianças constituem um dos grupos mais vulneráveis e que sofrem maiores consequências das dificuldades sentidas nas suas comunidades e famílias.
Em Maio, um Relatório, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças do terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias, insucesso e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história que já contei várias vezes e que me aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique, quando ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, me dizer que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

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