O Governo anunciou em tempos a ideia de passar
para a Trafaria o terminal de contentores que está na margem norte. A intenção
desencadeou variadíssimas reacções genericamente contra, incluindo a das
autarquias e habitantes da margem sul que não "querem" tanto "desenvolvimento"
que a instalação do terminal na Trafaria certamente trará.
Com toda a oportunidade, um estudo da AT Kearney encomendado
pelo Governo, entregue a AR, refere, sem surpresa e correspondendo à encomenda,
o esgotamento do actual porto de Lisboa entre 2023 e 2026 e garante, claro, a viabilidade
económica da operação pelo que defende a ideia do Governo alertando para a
necessidade de investimento em estruturas rodoviárias. A sério? Que surpresa
extraordinária!
Há poucas semanas realizou-se mais uma iniciativa
de protesto contra a intenção de construção do terminal de contentores na
Trafaria, devido às consequências de natureza diferenciada que tal
empreendimento terá na zona e nas envolventes, dada a necessidade de acessos
ferroviários e rodoviários. O Relatório encomendado pelo Governo é, pois, de
uma enorme oportunidade.
Quem tem vivido em Portugal nas últimas
décadas, sabe com segurança que as grandes obras públicas realizadas ou
idealizadas sempre tiveram, têm, por base muitos outros critérios que não o da
racionalização dos custos ou justificação pela necessidade.
A torneira aberta pela integração na União
Europeia e um fluxo de dinheiro que parecia não ter fim permitiu alimentar
realizações e sonhos que serviram interesses da mais variada natureza a começar
pelos jogos políticos, os interesses dos grupos económicos amigos dos
sucessivos governos, os narcisismos megalómanos de muitos dirigentes
autárquicos, etc. É certo que de todo este desvario alguma herança ficou ao
nível de infra-estruturas e equipamentos para as populações mas muito, mesmo
muito, se desperdiçou em elefantes brancos e inutilidades cuja manutenção actual
nos sai caríssima. Mesmos "sonhos" que nunca viram a luz do dia como
o TGV ou o novo Aeroporto de Lisboa são excelentes exemplos da deriva
incompetente e irresponsável na gestão dos interesses públicos. Duas obras que
não aconteceram mas que já absorveram muitos milhões de euros sem que exista ou
se preveja a identificação de alguma responsabilidade imputada a quem
sucessivamente foi alimentando estes processos. O estudo sobre a transferência
do terminal de contentores inscreve-se no mesmo trajecto.
Importa ainda não esquecer que muitos
especialistas sustentam que para Portugal, dadas as características,
proximidade e qualidade do Porto de Sines, um excelente terminal de contentores
a sul seria suficiente complementado pelo porto de Leixões a norte.
Aliás, também já foi divulgado o custo
astronómico, já divulgado, previsto para a construção de um ramal ferroviário
entre a Trafaria e o Pragal, que a proposta de passar o terminal de contentores
de Lisboa para a margem sul, na Trafaria, tornaria necessário. Este custo é
bastante superior ao custo por km do TGV.
Sou suspeito, vivo na margem certa do Tejo, a
sul, e não simpatizo de todo com a destruição da Trafaria e da zona envolvente
de arriba para a construção do terminal de contentores e do ramal ferroviário
para além de outros equipamentos ou vias reconhecidamente imprescindíveis.
A questão que me preocupa é que o que venha a ser
decidido esteja bem para lá da análise racional dos custos, das necessidades e
do impacto para ambiente e pessoas. Talvez seja de tentar perceber o que vai
acontecer aos terrenos libertados pelos contentores em Lisboa, quem ganha com
as obras e com a deslocação para a Trafaria deste terminal.
As autarquias da margem sul, sobretudo a de
Almada, já se manifestaram abertamente contra o projecto, tal como o fizeram
hoje, mas seria de ouvir as populações através, por exemplo, de um referendo.
No entanto, propositadamente ou não, continua a faltar muita informação.
O custo previsto por quilómetro da construção da
ferrovia que já é conhecido, sendo importante é apenas um dado, nem sequer o
mais importante.
Eu sei que a democracia directa é inviável devido ao elevado número de população. Mas também sei que esta democracia que na prática é PARTIDOCRACIA MEDULAR, que vitima a nossa dignidade, revolta e avilta as nossas vidas, NÃO ME SERVE!
ResponderEliminarAntes prefiro ser governado por regime antiliberalista, pois conheço-lhes bem o rosto, são inimigos em menor número e por isso mais fáceis de combater.
Na actual PARTIDOCRACIA MEDULAR os inimigos é os iguais a mim (muitos milhões) que não têm o discernimento suficiente para na altura do voto pôr a escumalha política fora da política.
Esta verborreia toda para dizer que estou inteiramente de acordo com seu texto com excepção de parte do TÍTULO.
CONHECIDOS INTERESSES e não DISCRETOS
VIVA!